Feito propaganda de vodka
Luciano Siqueira, no
Blog da Folha
Se você tem mais de quarenta anos certamente lembra
daquela propaganda da vodka: "eu sou você amanhã". Pois está na hora
de olharmos o idoso com essa perspectiva, mesmo quem nem chegou ainda aos
trinta. Ou aos vinte.
Parece brincadeira. Mas não é. Vem a propósito de
dois dados importantes de nossa realidade. Uma espécie de progressivo
envelhecimento da população brasileira (cerca de 20 milhões com 60 anos e
mais), na esteira do aumento da esperança média de vida e da redução da taxa de
natalidade; e, no outro extremo, o drama da juventude, precocemente lançada a
um mercado de trabalho que lhe é hostil, condenada à baixa escolaridade.
Estudos demográficos revelam o crescimento
tendencial da população idosa no Brasil. Média de vida hoje estimada em 67 a 72
anos, entre as camadas mais abastadas - embora permaneça entre 40 e 50 anos em
camadas e regiões de baixa renda, os denominados bolsões de miséria.
Porém, a exemplo das chamadas sociedades
industriais avançadas, aqui vale quem produz para que o capital se reproduza. É
a lei objetiva do capitalismo. Os mais velhos são relegados ao esquecimento ou
à marginalização - mesmo entre os ricos. Nas cidades médias e grandes, a
competição desbragada e o incremento da violência rebaixam os padrões de
sociabilidade e condenam as pessoas a uma espécie de autoconfinamento, à
solidão. Ou seja, sofrimento individual e perda social — pois a experiência
acumulada pelos idosos, da maior importância na formação de novas gerações, é
simplesmente jogada fora.
De outra parte, embora se saiba que nível de
escolaridade não significa necessariamente oportunidade de trabalho, quanto
menor o grau de instrução formal mais vulnerável estão as pessoas ao desemprego
e à marginalização. Por isso, vale observar um dado do Mapa da Juventude Brasileira,
pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania: há mais jovens de 15 a 24 anos
pelejando no mercado de trabalho (76%) do que nas salas de aula (64%). A juventude
vai muito cedo à luta, submetendo-se a relações empregatícias instáveis,
predominantemente informais, sem tempo para estudar. Um retrato do que serão as
novas levas de idosos amanhã.
A conclusão óbvia é a necessidade de políticas
governamentais específicas para as duas faixas etárias — feito o Estatuto do
Idoso, sancionado pelo presidente Lula em outubro de 2003; e o projetos para a
juventude nas três instâncias federativas.
Mas
há outra conclusão inevitável. A de que tais políticas públicas específicas
terão sempre alcance limitado enquanto não retomarmos plenamente o crescimento
econômico e o alargamento da oferta de postos de trabalho. Políticas
compensatórias em tempos de retração econômica são muito necessárias, jamais
suficientes.
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