Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Hoje o Senado deverá confirmar o afastamento definitivo da
presidenta Dilma. Carecendo de comprovação a acusação injusta de crime de
responsabilidade, terá se consumado a prática do parlamentarismo em plena
vigência do presidencialismo.
Na verdade, o exaustivo debate desses dias comprovou o
caráter eminentemente político do impeachment – ou seja, a determinação de uma
maioria eventual de interromper o mandato constitucionalmente estabelecido pela
força de mais de 54 milhões de eleitores.
Pratica-se o “voto de desconfiança” próprio do parlamentarismo,
que traduz a vontade de uma maioria parlamentar oposicionista que decide pelo
afastamento do primeiro-ministro.
Mais do que isso, se decide a quebra de braço entre dois
projetos distintos de nação: o derrotado nas urnas, que agora ressuscita versus
o vitorioso nas urnas, que se vê irremediavelmente atropelado.
O que ocorre no Brasil não está dissociado do que predomina
mundo afora – a onda regressiva que se afirma nas falsas soluções à crise
global e na retomada do figurino neoliberal em toda a linha.
Luís Nassif, no Jornal GGN, resume os componentes dessa onda
regressiva:
“1. A
desconfiança em relação à política. 2. A tentativa de substituir o Executivo
pelo Banco Central e o voto popular pelas corporações do Estado. 3. Os
interesses empresariais na política, através do financiamento de campanha. 5. A
xenofobia, como reação às políticas de inclusão e às ondas migratórias. 6. A
partir de 2008, todos esses processos agravados pela crise mundial com o fim do
sonho neoliberal e pelas tentativas de desmontar Estados de bem-estar social.
É um movimento
que ressuscita a ultradireita norte-americana, os partidos de direita radical
nos principais países da Europa, açula o terrorismo religioso e o terrorismo de
Estado, ameaça as liberdades civis e as próprias conquistas da civilização.”
Nesse sentido,
na América do Sul, essa onda vem em contraposição a conquistas recentes que,
como no Brasil, Argentina, Bolívia, Venezuela, Uruguai e Equador, provaram ser
possível, a despeito dos impasses do sistema imperante no mundo, promover o crescimento
econômico com inclusão social.
Antes da
passagem do século, o dirigente comunista João Amazonas, perguntado sobre como
seria o século XXI, arriscou dizer que seria “um século de luzes e sombras”. Nas
duas ou três primeiras décadas, predominariam as sombras; e adiante, como
resposta inevitável à extrema concentração da produção, da renda e da riqueza e
à regressão civilizatória, novo ciclo de tansformações políticas e sociais de
envergadura se darão.
No Brasil, o
desafio imediato será atualizar a agenda progressista e organizar a
resistência. Para uma contraofensiva adiante.
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