Nagib Jorge Neto, no Diário de Pernambuco
As redes sociais vêm dando espaço às pessoas que usam a
internet para emitir opiniões, críticas, louvações, quase sempre na expectativa
de ter apoio, elogios ou divergências. Nesse aspecto, as críticas,
discordâncias, com frequência tendem a ser julgadas como reflexo de posições
políticas, ideológicas, contra ou a favor de ideias, atos e fatos ligados a
temas que a mídia enfoca como verdade absoluta. Na prática, as redes se aliam,
ou vão além dos jornais, emissoras de televisão e rádio que difundem versões com
base em delações, acusações ou ilações.
Nessa linha, o debate perde sua essência e elegância, com
agressões, xingamentos, que na maioria dos casos termina sendo motivo de
expressão de ódio, raiva, baixo nível, visível em momentos, situações, que separam
conhecidos, amigos ou pessoas que nunca se viram, nem tampouco é possível saber
se existem, são verdadeiras ou falsas. Apesar dessa evidência, as postagens
passam a circular como provas que alguns escribas, fariseus, difundem como
sendo verdadeiras.
Esse tipo de rixa aconteceu nos anos 1970, quando alguns
jornalistas, escritores, artistas, intelectuais, cidadãs ou cidadãos, usavam
como arma o argumento de “patrulhamento ideológico” contra aqueles que
condenavam as omissões ou posições simpáticas ao regime militar. A expressão
era uma forma de tentar encerrar ou ignorar o debate, uma metáfora que visava
ganhar respaldo da opinião pública, irritar, postura que redundou em
rompimentos, chateações, enfim espaço para a intolerância que agora aumenta com
as redes sociais, com pessoas e grupos usando xingamentos, palavrões, acusações
de baixo nível.
De resto, tem um pouco a ver com a reflexão de Umberto Eco,
autor de A Obra Aberta, segundo o qual as redes sociais, a internet, deu voz a
“todos os imbecis”, perspectiva que afasta muita gente de comentar ou ver o que
há de parcial, intolerante; essa atitude também não ajuda em nada, pois é
importante saber o que pensam os que usam com distorções as redes sociais que
devem ser espaço de debate e informação com base em dados concretos.
É claro que há casos em que é impossível discutir esta ou
aquela questão, na medida em que alguém decide que não quer mais conversa, nem
receber notícias e comentários. Daí nada se pode fazer, pois qualquer diálogo,
debate, só pode existir quando é aceita a velha regra do ataque, defesa, ironia
ou raiva. Mas a tendência, infelizmente, vem sendo da intolerância e então,
mais uma vez, com a palavra Umberto Eco: no fundo, a pergunta básica da
filosofia (como a da psicanálise) é a mesma do romance policial: “de quem é a
culpa?”. Enfim, quando há ruptura, a culpa é sempre uma indagação, porque “há
tanta verdade, que é verdade demais”. Não serve ao debate, ao Legislativo, à
Justiça ou à Imprensa que se proclama defensora da sociedade.
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