Nagib Jorge Neto*, no Diário de Pernambuco
A imprensa não inventa, não cria
notícia, mas há jornalistas, órgãos de comunicação, que acolhem boatos ou
versões sem fundamento, violando a missão de informar o que na verdade
aconteceu ou acontece, de forma que prevalece a invenção contra pessoas e
instituições. É uma conduta que se atribui a erros ou falhas do ofício, mas tem
motivações na busca do fato novo, do “furo” ou de tendência política.
Tal conduta não é incomum entre nós,
pois com frequência há especulações que prejudicam o compromisso com a verdade,
ferem os princípios éticos e as normas de redação. Daí as versões que transformam
boatos em fatos, prejudicando instituições e pessoas vítimas do barulho e poder
da mídia. Nesse aspecto, nos anos 60, a mídia explorou a crise
política e militar e gerou a perspectiva de caos, ameaça às instituições, com
notícias sobre uma suposta República
Sindicalista ou Revolução Comunista. A campanha assustou a classe média, as
Forças Armadas, e gerou o ambiente ideal para o golpe de Estado de 64, seguindo
um modelo denunciado no filme Sete Dias de Maio, segundo o qual um
governo, ou o regime, pode ser abalado e derrubado pela mídia.
A receita vingou aqui e na América
Latina com documentos falsos, denúncias sobre um “mar de lama”, criação de Carlos
Lacerda na década de 50 contra Vargas e Juscelino. Daí avançou com a campanha contra
as reformas, a “subversão” no governo Jango e as alusões difamatórias sobre sua
vida familiar. Assim distorceu ideias e ações em defesa da América Latina, medidas
contrárias ao modelo liberal, as posições sobre Cuba, Venezuela e Colômbia (as
Farcs) e defendeu as exigências norte-americanas na área de comércio. Nessa
linha reativa agora a campanha contra a presidenta Dilma Roussef, com denúncias
e ilações sobre “pedaladas” – ajuste fiscal – opções de conduta, ousadia e honradez.
Então
cabe alertar que a nossa mídia apoiou o golpe de 64, a censura e a repressão, e
nos anos 90 manteve silêncio diante das privatizações, ajudando o desmonte do
Estado e das organizações de defesa das estatais e dos trabalhadores. Pior: alegando
combate as corporações, a ineficiência e a corrupção, defendeu os interesses
das multinacionais para comprar empresas, aparentemente competir, sanear, mas
que resultou no avanço de um Estado marginal, paralelo.
Evidente que a imprensa não criou as versões,
mas a forma de enfocar as distorções, criticar os serviços, geraram reações da
sociedade, defesa das teses da mídia, baseada na crença de que a imprensa só
divulga a verdade. No processo não houve ampliação do debate público, vital ao
exercício democrático e afirmação da cidadania, pois a opinião pública foi mera receptora da informação. Então faltou -
como agora - o debate amplo, a liberdade de crítica, de denúncia ou defesa, que
ajudam na conscientização, posicionamento das forças sociais, que não devem ser
consumidoras passivas e obedientes da receita do espetáculo e da busca de
audiência, com disfarce de cruzada moralista e ação saneadora.
* Jornalista
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