Samba de uma nota só não dá
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
O ex-presidente Lula é vítima de
perseguição e está condenado e preso injustamente? A liberdade de Lula é uma
bandeira de todos os democratas e tem que se manter alevantada? O PT tem razões
para manter a pré-candidatura de Lula como forma de luta pela sua liberdade?
Positivo. Há quase que uma unanimidade
no campo democrático quanto a essas questões.
De outra parte, o PT não deve admitir
sequer discutir a hipótese de um substituto para Lula, caso se confirme o seu
impedimento legal? Deve o PT seguir interditando qualquer possibilidade de
união da esquerda, salvo se em torno de sua própria pré-candidatura? Podem os
demais partidos de esquerda e as correntes progressistas se submeterem ad
infinitum à opção tática particular do PT?
Ocorre que estamos perto de cinco meses
antes do pleito presidencial e, apesar da correlação de forças adversa, estão
presentes variáveis que podem, se bem exploradas, melhorar as condições de
disputa da oposição, mirando um eventual segundo turno no qual se alcance uma
ampla conjugação de forças capaz de vencer.
Nada disso é fácil, obviamente.
Entretanto, o campo governista está temporariamente
fragmentado, tateia em busca de uma candidatura presidencial aglutinadora e
competitiva e exibe na testa a marca corrosiva de Temer e seu governo. Pode
perder as eleições.
Sendo assim, por que se deve abandonar
um postulado tático elementar da luta política, a consideração de mais de uma alternativa
conforme o evolver dos acontecimentos?
Mas o PT — a despeito das derrotas que
vem amargando e do imenso desgaste público — insiste numa espécie de samba de
uma nota só (se não for Lula, será o dilúvio!) e julga que as forças aliadas
devem a isso se submeter.
Não é, sob todos os títulos, uma opção
tática razoável. No máximo pode servir a objetivos próprios, centrados na
conquista de bancadas parlamentares e, quem sabe, na reeleição de governadores
petistas no Piauí, Minas Gerais, Bahia e Acre.
Nas atuais circunstâncias, seriam
conquistas consideráveis de um partido envolto em tantas dificuldades.
Porém significa abrir mão de véspera de
um propósito crucial ao futuro imediato e de médio prazo para o Brasil e para
os interesses fundamentais do nosso povo: interromper o golpe, que segue e se
projeta movido por uma agenda neocolonial, regressiva de direitos e
antidemocrática.
O conjunto das nossas forças tem sido
solidário para com o ex-presidente Lula e para com o Partido dos Trabalhadores.
Entretanto, têm razão o PCdoB e sua
pré-candidata Manuel D'Ávila ao defenderem a unidade em torno de uma plataforma
comum e o diálogo sincero e responsável tendo em vista a possibilidade de uma
composição de forças já no primeiro turno da disputa presidencial. Em torno de
Lula, se puder disputar, ou de outra candidatura não necessariamente do PT.
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