02 agosto 2018

Atenção ao que se diz


Nada mais do que a verdade
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Em crônica recente em que homenageia os craques pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Rivaldo — o poeta e o meio-campista avançado do Santa Cruz da seleção brasileira de futebol campeã mundial em 2002 —, Xico Sá afirma que ambos se despediram dos seus ofícios sem cerimônia, “temendo os excessos”.

De fato, a aventura humana deveria se pautar pelo estritamente necessário, evitando-se ir além do real e verdadeiro.

Provavelmente a vida seria mais rica, ainda que mais simples, pois dispensaria desejos e emoções falsos.

Mas não é assim. Prevalece a ilusão de que esticando a corda e produzindo imagens ilusórias é possível dominar realidade concreta segundo os desígnios de cada um.

É o que acontece na luta política, nas campanhas eleitorais em particular — sobretudo com o advento das técnicas e pirotecnias do chamado marketing.

Entre a intenção e o gesto a imagem fantasiosa frequentemente se sobrepõe.

É o que certamente veremos na campanha de candidatos à presidência da República como Geraldo Alckmin, do PSDB. Comprometido até a medula com a agenda ultra neoliberal de Temer e apoiado pelas legendas que promoveram o golpe e dão sustentação ao atual governo ilegítimo.

O tucano, entretanto, já insinua encarnar o “novo” e a verdadeira mudança (sic).

No outro extremo, as forças de oposição (partidos de esquerda em particular) precisam superar duas fantasias: a de que separados levarão de qualquer jeito o pleito ao segundo turno, sendo desnecessário uma união desde já; e a de que basta defender o legado dos dois governos Lula e do primeiro governo Dilma para conquistar a maioria do eleitorado.

Os milhões de eleitores, entretanto, ainda atônitos face às rupturas institucionais recentes e a enorme discrepância entre a narrativa midiática dominante e sua dura realidade de vida, certamente nem se deixarão enganar facilmente nem se contentarão com a defesa do passado recente, por mais positiva que seja a memória dele.

Assim, de um ponto de vista otimista, quase sonhador, bom seria que o debate eleitoral – a exemplo do poeta e do atleta - evitasse os “excessos” e se pautasse por proposições realistas e factíveis.

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