Picasso
Leão marinho
Carlos
Drummond de Andrade
Suspendei
um momento vossos jogos
na
fímbria azul do mar, peitos morenos.
Pescadores,
voltai. Silêncio, coros
de
rua, no vaivém, que um movimento
diverso,
uma outra forma se insinua
por
entre as rochas lisas, e um mugido
se
faz ouvir, soturno e diurno, em pura
exalação
opressa de carinho.
É o
louco leão-marinho, que pervaga,
em
busca, sem saber, como da terra
(quando
a vida nos dói, de tão exata)
nos
lançamos a um mar que não existe.
A
doçura do monstro, oclusa, à espera...
Um
leão-marinho brinca em nós, e é triste.
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