Contradições
no Governo, vitórias na crise da Venezuela
"Em momentos de grandes dificuldades, como o que vivemos, há que se
considerar as contradições que surgem no meio dos diversos setores e líderes,
até no meio de adversários, que, se bem trabalhadas, podem desequilibrar o jogo
mais perigoso."
Haroldo Lima, portal Vermelho
A
manobra da “ajuda humanitária”, montada pelos Estados Unidos, nas fronteiras
terrestres da Venezuela, tinha objetivo claro: desencadear a intervenção
militar naquele país. Tropas da Colômbia e norte-americanas levariam, à força,
a “ajuda” ao interior da Venezuela. A ação intervencionista contaria com a
colaboração do traidor venezuelano Juan Guandó, o tal que se autoproclamou presidente,
e com o beneplácito, o apoio e a participação militar do Brasil. A Operação foi
programada para sábado (23), e pifou porque o Brasil não aceitou participar do
plano.
Em seguida, na segunda-feira (25), o belicoso Grupo de Lima se reuniu em Bogotá, com a presença do vice-presidente norte-americano, Mike Pence. Este afirmou o tempo todo que, na visão dos EUA, “todas as opções estão sobre a mesa” para afastar o “ditador Nicolás Maduro” e empossar o “presidente interino Juan Guaidó”. Quando ele falava em “todas as opções” queria dizer intervenção militar, que era aceita por quase todos do Grupo de Lima.
A partir de conversa que tiveram com o americanista chanceler brasileiro Ernesto Araújo,os americanos contavam que o Brasil iria permitir a presença de soldados americanos em seu território, na operação contra a Venezuela. O Ernesto é o aloprado ministro que admira Trump e que admitiu a instalação de uma base americana no Brasil, até que foi repreendido pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão.
Reunido o Grupo de Lima, seus membros tiveram que ouvir, segundo a Folha de São Paulo, a seguinte declaração do vice-presidente brasileiro:
“O Brasil acredita firmemente que é possível devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas sem qualquer medida extrema que nos confunda com aquelas nações que serão julgadas pela história como agressoras, invasoras e violadoras das soberanias nacionais".
Para completar seu pensamento, o general Mourão declarou, após a reunião, segundo o mesmo jornal:
“Para nós, a opção militar nunca foi uma opção. O Brasil sempre apoiou soluções pacíficas para qualquer problema que ocorra nos países vizinhos”.
Depois disso, o Grupo de Lima rechaçou a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela e afirmou que a “transição democrática na Venezuela “deve ser conduzida “pacificamente pelos próprios venezuelanos”, com apoio de meios políticos e diplomáticos e “sem o uso da força”. Pelo menos momentaneamente, foi uma vitória.
Vitória de uma parte do governo brasileiro, aquela representada pelo general Hamilton Mourão, os militares, vez que a parte encabeçada pelo ministro Ernesto Araújo tinha outra posição, já anunciado para os norte-americanos.
Procurando compreender as razões que predominaram no Brasil, a BBC News foi ouvir especialistas em estratégia das Forças Armadas Brasileiras e anotou o que disse o general Eduardo Schneider:
"O militar enxerga as coisas de maneira pragmática, sob a ótica dos interesses do Brasil. Com as voltas que o mundo dá, o Brasil poderia ser alvo de intervenção no futuro. Temos que tomar cuidado para não sermos peões dentro da estratégia de uma superpotência".
O general Schneider chamou a atenção para as consequências que devem ser consideradas, quando se dão passos que podem levar a um conflito do qual participe um país como os Estados Unidos, que usa do expediente de guerras localizadas para sustentar sua influência em regiões do globo. Disse o general:
"Os Estados Unidos estão há 18 anos no Afeganistão. Eles têm a responsabilidade de reconstrução do país, porque se tornaram atores políticos. No Iraque, há presença de tropas americanas há 16 anos."
"Um conflito no nosso vizinho, se arrastando por anos, seria horrível para o Brasil. Você pode derrubar militarmente Maduro, mas depois não sabemos se isso pode gerar uma guerra de guerrilhas."
E finalmente o general Schneider pôs o dedo na ferida, referindo-se a uma questão chave:
"A não-intervenção sempre foi um pilar da nossa política externa e militar. É uma questão de Estado, independentemente dos governos. Isso ainda é mais sensível por se tratar da região amazônica".
Sim, o imperialismo americano faz todas as tramoias para acantonar tropas na Amazônia, especialmente na sua parte mais frondosa, a Amazônia brasileira. Se conseguir, tão cedo sairá de lá.
A evolução da crise na Venezuela expõe as contradições que existem no Governo, nas instituições e entre os líderes políticos. Em momentos de grandes dificuldades, como o que vivemos, há que se considerar as contradições que surgem no meio dos diversos setores e líderes, até no meio de adversários, que, se bem trabalhadas, podem desequilibrar o jogo mais perigoso.
Nesse sentido, chamou a atenção a declaração ao vivo, no Jornal Nacional de segunda-feira (25) passado, do presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia, a propósito da participação do Brasil na mutreta da “ajuda humanitária”. Disse ter sido contrário à essa tal “ajuda”, por não estar de acordo que o Brasil fosse usado como “instrumento” da política externa norte-americana de intervenção na Venezuela. Ou seja, em questão chave para a América do Sul e para o Brasil, o presidente da Câmara não ficou com a posição do governo brasileiro e do seu Ministério do Exterior do Brasil, mas assumiu uma postura que refletia os interesses nacionais.
*Haroldo Lima é membro da Comissão Nacional Política do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.
Em seguida, na segunda-feira (25), o belicoso Grupo de Lima se reuniu em Bogotá, com a presença do vice-presidente norte-americano, Mike Pence. Este afirmou o tempo todo que, na visão dos EUA, “todas as opções estão sobre a mesa” para afastar o “ditador Nicolás Maduro” e empossar o “presidente interino Juan Guaidó”. Quando ele falava em “todas as opções” queria dizer intervenção militar, que era aceita por quase todos do Grupo de Lima.
A partir de conversa que tiveram com o americanista chanceler brasileiro Ernesto Araújo,os americanos contavam que o Brasil iria permitir a presença de soldados americanos em seu território, na operação contra a Venezuela. O Ernesto é o aloprado ministro que admira Trump e que admitiu a instalação de uma base americana no Brasil, até que foi repreendido pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão.
Reunido o Grupo de Lima, seus membros tiveram que ouvir, segundo a Folha de São Paulo, a seguinte declaração do vice-presidente brasileiro:
“O Brasil acredita firmemente que é possível devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas sem qualquer medida extrema que nos confunda com aquelas nações que serão julgadas pela história como agressoras, invasoras e violadoras das soberanias nacionais".
Para completar seu pensamento, o general Mourão declarou, após a reunião, segundo o mesmo jornal:
“Para nós, a opção militar nunca foi uma opção. O Brasil sempre apoiou soluções pacíficas para qualquer problema que ocorra nos países vizinhos”.
Depois disso, o Grupo de Lima rechaçou a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela e afirmou que a “transição democrática na Venezuela “deve ser conduzida “pacificamente pelos próprios venezuelanos”, com apoio de meios políticos e diplomáticos e “sem o uso da força”. Pelo menos momentaneamente, foi uma vitória.
Vitória de uma parte do governo brasileiro, aquela representada pelo general Hamilton Mourão, os militares, vez que a parte encabeçada pelo ministro Ernesto Araújo tinha outra posição, já anunciado para os norte-americanos.
Procurando compreender as razões que predominaram no Brasil, a BBC News foi ouvir especialistas em estratégia das Forças Armadas Brasileiras e anotou o que disse o general Eduardo Schneider:
"O militar enxerga as coisas de maneira pragmática, sob a ótica dos interesses do Brasil. Com as voltas que o mundo dá, o Brasil poderia ser alvo de intervenção no futuro. Temos que tomar cuidado para não sermos peões dentro da estratégia de uma superpotência".
O general Schneider chamou a atenção para as consequências que devem ser consideradas, quando se dão passos que podem levar a um conflito do qual participe um país como os Estados Unidos, que usa do expediente de guerras localizadas para sustentar sua influência em regiões do globo. Disse o general:
"Os Estados Unidos estão há 18 anos no Afeganistão. Eles têm a responsabilidade de reconstrução do país, porque se tornaram atores políticos. No Iraque, há presença de tropas americanas há 16 anos."
"Um conflito no nosso vizinho, se arrastando por anos, seria horrível para o Brasil. Você pode derrubar militarmente Maduro, mas depois não sabemos se isso pode gerar uma guerra de guerrilhas."
E finalmente o general Schneider pôs o dedo na ferida, referindo-se a uma questão chave:
"A não-intervenção sempre foi um pilar da nossa política externa e militar. É uma questão de Estado, independentemente dos governos. Isso ainda é mais sensível por se tratar da região amazônica".
Sim, o imperialismo americano faz todas as tramoias para acantonar tropas na Amazônia, especialmente na sua parte mais frondosa, a Amazônia brasileira. Se conseguir, tão cedo sairá de lá.
A evolução da crise na Venezuela expõe as contradições que existem no Governo, nas instituições e entre os líderes políticos. Em momentos de grandes dificuldades, como o que vivemos, há que se considerar as contradições que surgem no meio dos diversos setores e líderes, até no meio de adversários, que, se bem trabalhadas, podem desequilibrar o jogo mais perigoso.
Nesse sentido, chamou a atenção a declaração ao vivo, no Jornal Nacional de segunda-feira (25) passado, do presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia, a propósito da participação do Brasil na mutreta da “ajuda humanitária”. Disse ter sido contrário à essa tal “ajuda”, por não estar de acordo que o Brasil fosse usado como “instrumento” da política externa norte-americana de intervenção na Venezuela. Ou seja, em questão chave para a América do Sul e para o Brasil, o presidente da Câmara não ficou com a posição do governo brasileiro e do seu Ministério do Exterior do Brasil, mas assumiu uma postura que refletia os interesses nacionais.
*Haroldo Lima é membro da Comissão Nacional Política do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.
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