Wladyslaw Strzeminsk
Cada trincheira com
suas peculiaridades
Luciano Siqueira
Até mesmo porque é a expressão institucional da vida como
ela é, a luta política nunca foi nem será simples.
Toda tentativa reducionista de enquadrá-la em alguma espécie
de gabarito principista dá errado.
Embora na essência interesses de classes e de segmentos de
classes se façam presentes em todas as esferas da vida, e alimentem o conteúdo
essencial da luta nas suas variadas dimensões, algumas correntes políticas teimam
na tentativa de enquadrar tudo como se fosse uma coisa só.
Porém cada trincheira tem suas peculiaridades e suas
exigências.
A luta sindical, por exemplo, põe em choque contradições
entre detentores do capital versus trabalhadores – mesmo quando vivenciadas na
esfera institucional, entre governos versus funcionalismo público.
A luta popular das periferias urbanas por moradia e
condições de infra-estrutura que lhes assegurem vida minimamente digna, idem.
O mesmo ocorre com as lutas que empolgam a juventude estudantil
e também grupos sociais motivados por bandeiras temáticas, como a sustentabilidade
ambiental, por exemplo.
No parlamento, nas três esferas federativas, o mesmo se dá. Com
suas próprias nuances.
Via de regra, sobretudo no inicio das legislaturas,
coloca-se em questão o respeito às regras regimentais, indispensável a que
maiorias eventuais não passem o rolo compressor, atropelando as minorias.
O direito de expressão, a participação nos órgãos colegiados
segundo a proporcionalidade medida pelo tamanho das bancadas (ou blocos
parlamentares) e o trâmite normal de projetos de Lei são indispensáveis à
porfia parlamentar.
Alguns, por inexperiência ou mesmo por miopia programática e
tática, abordagem desafios decorrentes da correlação de forças nas casas
legislativas como se fora um mero embate de ideias ou o prolongamento de conflitos
eleitorais.
Esses tendem a uma atitude infantil de “marcar posição”, via
de regra jogando para a platéia ao invés de assumir suas responsabilidades.
Outros se negam a emprestar sua força ao embate democrático
se a hegemonia do processo não lhe estiver garantida. É um hegemonismo doentio
presente em muitas derrotas das forças democráticas e progressistas.
Entretanto, felizmente, não falta a visão estratégica e o pragmatismo
tático consequente a correntes políticas presentes no parlamento, que agem no
sentido de assegurar as condições necessárias ao jogo democrático, mesmo quando
sob correlação de forças adversa.
Quem acompanhou a eleição da presidência da Câmara dos
Deputados, recentemente, haverá de compreender muito bem essa constatação
prática inequívoca: cada trincheira impõem sua moldura e é preciso travar o bom
combate em quaisquer circunstâncias.
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