Privilegiados sem ônus
Luciano Siqueira
É uma cantilena diária e irritante. — O Brasil está quebrado!
Luciano Siqueira
É uma cantilena diária e irritante. — O Brasil está quebrado!
Na verdade, uma senha para afirmação da
agenda ultraliberal que, entre outros elementos, contém a redução do poder
intervenção do Estado e o equilíbrio das contas públicas acima de tudo.
Claro que a tese do Estado mínimo, nos
dias que correm, aqui e mundo afora, não passa de uma falácia.
Nas muitas crises conjunturais (tendo
como pano de fundo os impasses estruturais do sistema capitalista) relacionadas
com a ultrafinanceirização da economia, nos Estados Unidos e na Europa Central
e também em muitos outros países periféricos, tem sido contidas, parcialmente,
mediante intervenção dos bancos centrais desses países.
Ou seja, o Estado é requisitado toda
vez que necessário. Uma espécie de liberalismo “atualizado“.
Também a afirmação de que o país não
pode conviver com déficit público elevado não se sustenta.
Vide o próprio exemplo
dos Estados Unidos — a Meca do bolsonarismo —, que ostenta há anos déficit
público astronômico.
Na verdade, o que se passa no Brasil
agora é uma espécie de subproduto dos intuitos neoliberais que há cerca de mais
de seis décadas se dirigem à redução dos custos da produção, na tentativa de
recuperar a taxa média de lucro, em queda tendencial incontrolável.
A reforma trabalhista recém aprovada no
Congresso Nacional (durante o governo Temer) deu conta da precarização das
relações de trabalho e da redução de custos com a contratação de mão-de-obra
pelas empresas.
A reforma da Previdência pretendida
pelo governo Bolsonaro tem como uma das suas intenções fundamentais a
capitalização de parte dos míseros ganhos dos trabalhadores, uma alternativa ao
que dizem ser a falência da previdência pública.
Essa reforma contém vários elementos
destinados a subtrais recursos dos trabalhadores. Passam ao largo os detentores
de grandes fortunas e aqueles privilegiados em qualquer circunstância aos quais
não se perde nenhum sacrifício: sistema financeiro.
Os bancos nunca deixaram de auferir
lucros astronômicos, inclusive os governos Lula e Dilma. Os quatro principais
bancos de capital aberto (incluindo o Banco do Brasil) alcançaram lucros de R$
73 bilhões em 2018, 12,3% a mais do que no ano anterior.
Mas há como um dogma de que a eles —
esses privilegiados — nenhum sacrifício se pode pedir.
Quando a presidenta Dilma tentou
reduzir progressivamente a taxa básica de juros foi alvo imediatamente de um
combate cerrado pelos bancos, reverberado pela grande mídia e que ecoou no
Congresso Nacional através da maioria conservadora, até desembocar, adiante, no
impeachment.
Não é sem razão que o dito atual todo
poderoso ministro da Economia é um representante direto do rentismo.
Ao demagógico lema “Brasil acima de tudo,
Deus acima de todos” o governo Bolsonaro acrescenta, na prática, a consigna “do
povo todo sacrifício, aos banqueiros todo privilégio”.
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