14 junho 2019

Seleção "normal"


Os apressados já decretaram que a seleção é melhor sem Neymar
Tostão, na Folha de S. Paulo

Uma das maiores dificuldades do ser humano, principalmente neste momento de polarização, é enxergar o outro lado, o que não é espelho, ser um observador neutro. Com isso, aumenta bastante o número de pessoas tendenciosas e sem bom senso.
Criticamos a qualidade de jogadores, treinadores e times brasileiros, mas não podemos deixar de reconhecer as boas coisas, as tentativas de se fazer algo novo e diferente. Existe uma transformação em nosso futebol, com uma pluralidade de estilos, o que será positivo mais à frente.
Não podemos também ter a pretensão de achar que o que é bom é apenas o que pensamos e gostamos.
Não tenho admiração pelo estilo do Palmeiras, de jogo mais direto e de pouca troca de passes, mas reconheço a qualidade da equipe e deFelipão. Admiro a maneira inovadora de Sampaoli, na tentativa de jogar um futebol ofensivo e agradável, o que não significa que ele não seja responsável por equívocos individuais e coletivos, talvez por causa de sua agitação durante os jogos.
O Brasil, fora Neymar, não tem um grande craque do meio para frente, que esteja entre os melhores do mundo em suas posições, mas possui excelentes jogadores, em condições de formar uma equipe forte, capaz de ganhar a Copa América ou qualquer outra competição. A seleção sem Neymar é muito melhor que a da Argentina sem Messi.
Por causa de um único jogo, a goleada por 7 a 0 sobre a fraquíssima Honduras, que atuou a maior parte do tempo com um a menos, os apressados, os “entendidos”, os que têm pouco conhecimento, os que misturam o comportamento de Neymar fora e dentro de campo e os que não gostam de craques já decretaram que a seleção, sem Neymar, é melhor, porque joga um futebol mais coletivo, como se Neymar atrapalhasse o conjunto. O Brasil, para ter um grande time, precisa de organização tática e de Neymar.

Nos dois amistosos, além da ótima marcação por pressão, da mudança tática em relação ao Mundial, com Coutinho jogando livre, pelo centro e mais próximo do centroavante, os dois laterais brasileiros atuaram mais por dentro, armando as jogadas, como no Manchester City, com Guardiola. Isso será mais bem avaliado quando o Brasil enfrentar times mais fortes e que atacam pelos lados.

Na Copa, critiquei bastante o posicionamento de Coutinho, no meio-campo, formando um trio com Casemiro e Paulinho. Além de não ter força física e intensidade para atuar de uma área à outra, Coutinho não ajudava Marcelo na marcação pela esquerda. Agora, no novo esquema, com o lateral sendo protegido pelo atacante que joga pelo lado (David Neres), Marcelo ficou fora, um desperdício.
A seleção, com Tite, Felipão e Dunga, sempre foi muito bem antes das últimas Copas do Mundo, principalmente nos amistosos, por jogar com seriedade e por não fazer testes, com o objetivo de vencer todas as partidas. O Brasil é o campeão mundial de amistosos.
[Ilustração: Aldemir Martins]
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