Luciano Siqueira
Em toda sociedade, momentos críticos produzem
grandes líderes e também diminuem a biografia de outros.
É que a crise implica profunda compreensão das
contradições que a fomentam e descortino para identificar saídas. E não são
muitos os que têm a capacidade de enxergar além da superfície.
Daí não serem poucos os que se vêem enredados em
contradições menores e excessivamente voltados para seus próprios projetos,
encastelados nos limites da corrente política a que pertencem.
As consequências são imprevisíveis, tanto para a
manutenção da proeminência, na cena política, desta ou daquela personalidade,
como para os rumos mesmo da luta comum.
Em entrevista recente, o ex-presidente Lula
referiu-se aos impactos das transformações do mundo do trabalho na estrutura
sindical representativa das diversas categorias profissionais. Num exemplo
simples assinalou que já não se fazem pequenas assembleias em porta de fábrica,
próprias da existência de grandes contingentes operários em unidades
industriais que hoje já não existem, tamanha a redução da mão-de-obra empregada
no processo produtivo. Uma dificuldade concreta de arregimentação de forças
pela base.
Se o líder petista estender o seu raio de análise
para um conjunto mais largo de transformações que se operam nas relações
sociais em tempo da chamada Revolução Industrial 4.0, inclusive nos meios de comunicação
entre as pessoas e de formação da consciência política coletiva, provavelmente
ele se beneficiaria muito do alargamento da análise e, como se diz na gíria,
cairia na real.
O drama brasileiro de hoje não pode ser examinado
apenas ou predominantemente nos limites do Partido dos Trabalhadores, por mais
importante que continue sendo essa agremiação.
Tampouco também não se resolve nos limites
estreitos do debate intramuros das demais correntes políticas do campo
democrático e popular.
A empreitada posta agora é de grande dimensão.
Implica em resistência imediata às políticas nefastas empreendidas pelo governo
Bolsonaro — sobretudo na defesa do Estado democrático de direito — e a
construção, a muitas mãos, de um novo projeto de desenvolvimento para o país.
Há sinais muito ruins no campo democrático,
protagonizados por líderes que teimam em se voltarem para o próprio umbigo. E
há sinais muito positivos, a exemplo do que tem feito o governador do Maranhão,
Flavio Dino, do PCdoB, que governa seu estado com extraordinário êxito
administrativo, apoiado em operante e consequente frente ampla
político-partidária e social.
Mais: Flavio Dino tem praticado gestos largos na
cena política nacional sinalizando no sentido do ajuntamento de consciências e
de vontades num arco o mais amplo possível, na crença de que a pluralidade
consequente haverá de produzir robustez na luta imediata e nova proposta para o
país, capaz de empreender uma inversão na correlação de forças e um novo pacto
social e político que supere a crise estrutural na qual o Brasil está
mergulhado.
Protagonismo político não se conquista nem se
mantém por decreto, se assenta e depende permanentemente do desenrolar dos
acontecimentos. Rejeita toda e qualquer abordagem sectária e mecanicista e
requer compreensão larga e dialética do processo político e social.
No Brasil dos nossos dias, sob correlação de forças
ainda muito adversa, há espaço para fenômenos novos.
A conferir.
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