13 fevereiro 2020

Inseparáveis

Eles se completam
Luciano Siqueira

Li hoje cedo na Folha que o presidente capitão Bolsonaro disse não responder por atitudes do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, a propósito de mais declaração preconceituosa do seu auxiliar, desta vez chamando de “bagunça” a possibilidade de empregadas domésticas irem a Miami na vigência de baixa cotação do dólar.
Guedes já havia chamado funcionários públicos de parasitas. Antes já dissera em Davos que a culpa do desmatamento da Amazônia é a fome.
E o próprio Guedes, falando a governadores, queixara-se de que no governo todo dia explode uma bomba, supostamente se referindo às trapalhadas do presidente.
Na verdade, eles se completam. Um, com as rédeas do governo, dispõe de uma caneta com a qual assina suas diatribes na forma de decreto ou de Medida Provisória. E com o teclado do smartphone diz o que quer e bem entende, se é que entende de alguma coisa, no Twitter – inclusive agressões a grupos sociais e a personalidades que elege como inimigos mortais eventuais.
Na campanha, o capitão dizia nada entender de economia e transferia perguntas ao seu futuro ministro, por ele mesmo alcunhado de Posto Ypiranga. No governo, repete.
O outro gere a economia como quem conduz um banco dedicado à usura cotidiana no mercado de capitais. Não conhece o Brasil, desconhece o drama do povo e não dá nenhum sinal de que pretende conhecer.
E assim o país atravessa a agonia de uma longa noite turbulenta, marcada pela instabilidade e pela incerteza, enquanto a maioria da população se vê mesclada entre enganados, confusos e resistentes ainda dispersos e tímidos.
Resta esperar que a realidade fale mais alto e tanto desfaça a farsa governista como desperte o gigante politicamente semi-anestesiado e, adiante, inverta a correlação de forças e abra caminho para um novo tempo.
O que está estabelecido não pode se sustentar por muito tempo. Seria o prolongamento de um desastre.
[Ilustração: Goya]
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