Há males que vêm para o bem
Luciano Siqueira
Essa expressão algo dialética eu escuto desde criança. Uma espécie de chamamento a uma necessária reação diante de algum infortúnio.
Essa expressão algo dialética eu escuto desde criança. Uma espécie de chamamento a uma necessária reação diante de algum infortúnio.
É o que ocorre agora
quando grupos de extrema direita convocam atos públicos para o próximo dia 15,
de conteúdo abertamente antidemocrático, tendo como
alvos principais o Congresso Nacional e o Superior Tribunal Federal.
Mais ainda
pelo envolvimento explícito do presidente da República, caracterizando
conflito aberto entre o poder executivo e os poderes judiciário e
legislativo.
A tese da
extrema direita, reverberando o que tem dito repetidas vezes o próprio capitão
Bolsonaro, é de que a suprema corte e o poder legislativo tentam impedir que o governo
governe.
Essa tem
sido, mundo afora, a senha para a instituição de regimes ditatoriais.
Bolsonaro
governa abertamente contra os direitos fundamentais no nosso povo, pelo
desmonte gradativo do Estado democrático de direito e mina pela raiz salvaguardas
da soberania nacional.
Natural
que encontre resistência de parcelas expressivas da sociedade e que essa
resistência tenda a crescer, influenciando inclusive, em certa medida, o
próprio Congresso Nacional de maioria governista não muito sólida.
O fato é
que o teor do movimento pautado para o dia 15 já não deixa mais dúvidas de que
é preciso resistir para além de projetos partidários de curto prazo.
A
expressão “há males que vêm para o bem” cabe sobretudo para aqueles que, nas
hostes oposicionistas, têm enxergado mais o próprio umbigo do que os destinos
da nação e reeditam a estreiteza e o sectarismo como falso caminho para a
própria sobrevivência.
Assim, as
reações de agora, por parte de personalidades de expressão situadas à esquerda
e ao centro – incluindo Lula, Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso -, que
apontam no sentido de uma resistência ampla em defesa da democracia, emergem
como sinais positivos no sentido da amplitude e da pluralidade.
Cabe ao
conjunto dos partidos e grupos políticos resistentes e aos movimentos sociais
expressarem a resistência nas ruas.
Para o
Brasil, o pior infortúnio agora seria ingressar em nova ditadura.
[Ilustração: Frantisek Kupka]
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