Expectativa criada sobre
Alexandre Pato é muito maior que a realidade
Tostão, Folha de
S. Paulo
Cheguei de viagem de férias na terça-feira (28) à noite, no
momento do dilúvio em Belo
Horizonte. Demorei a entrar em casa. Carros destruídos boiavam nas
ruas, que se transformaram em rios. Belo Horizonte e outras grandes cidades
foram construídas sobre rios canalizados. Os humanos pagam o preço por isso e
pelas mudanças
climáticas que provocam no planeta.
Voltei à rotina, após dez dias sem ver, escutar e ler sobre
futebol. Fora os acontecimentos pontuais, algumas discussões se repetem ao
longo dos anos. Uma delas é a formação e o posicionamento dos jogadores no
meio-campo. Depois de uma longa tolerância e aceitação dos volantes brucutus,
querem agora o oposto, que os volantes joguem de uma intermediária à outra,
marquem, deem passes e ainda façam gols. É demais.
Nas melhores equipes do mundo, o meio-campo é formado por um
volante centralizado (centromédio), que protege a defesa, inicia as jogadas
ofensivas com bom passe e que pouco chega à grande área adversária, além de um
meio-campista de cada lado, que defendem e avançam como meias. São raros os
clássicos meias de ligação. Isso ocorre, entre outros motivos, porque não há
espaço físico para eles jogarem, já que os times são compactos, com os três
setores muito próximos.
Já no Brasil, com os zagueiros colados à grande área, protegidos
pelos volantes, sobram grandes espaços entre eles e os atacantes, preenchidos
pelo meia de ligação. Continua a visão arcaica de que os dois volantes marcam e
o meia de ligação é o único responsável pela criação de jogadas.
Além do Flamengo,
Santos, Internacional e Atlético-MG, dirigidos por técnicos estrangeiros, possuem
desenho tático como o dos europeus, com um trio no meio-campo, formado por um
volante e um meio-campista de cada lado. Gostei muito do volante Jobson, do
Santos.
No empate entre Atlético-MG e Coimbra, pelo Campeonato
Mineiro, o treinador Dudamel foi bastante criticado por jogar com
três volantes, sem um meia de ligação, como se isso fosse a causa da má atuação
do time. O Atlético tem várias deficiências individuais e não jogou com três
volantes, e sim com um volante e dois meio-campistas.
Em todas as partidas que vi no meio de semana, ficou evidente a
preocupação dos treinadores das grandes equipes em valorizar mais a troca de
passes e o domínio da bola e do jogo. Isso é bom. O Palmeiras, com Luxemburgo,
é diferente do time do ano passado. Por outro lado, insisto que continuam os
enormes espaços entre os setores. Os zagueiros morrem de medo de avançar um
pouco e de levar bolas nas costas.
O Corinthians,
após a entrada, no segundo tempo, do volante colombiano Cantillo, um jogador
habilidoso, de passadas largas e bom passe, mostrou sinais de que poderá
evoluir. Falta um ótimo atacante pelo lado.
Os anos passam e continua a mesma discussão sobre Alexandre Pato.
Há mais de dez anos, esperam que se torne um craque. Dizem que ele não sabe
aproveitar seu enorme talento e técnica. Nunca o vi assim. Faltam a ele várias
qualidades técnicas, principalmente a mais importante para se tornar um craque,
a lucidez nas decisões. A expectativa criada é muito maior que a realidade.
Pior é que ele também se iludiu.
Já o atacante Willian, do Palmeiras, longe de ser um excepcional
jogador, é o oposto. Não tem a graça, a habilidade nem os efeitos especiais de
Pato, mas quase sempre joga bem, além de ter uma ótima técnica para finalizar.
Ele é melhor do que parece.
[Ilustração: LS]
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