Estatísticas do futebol
dão contribuição às análises, mas precisam ser interpretadas
Número de chances claras de gol é mais importante do que quantidade de
chutes ao gol
Tostão, Folha de S. Paulo
Alguns
jogadores e treinadores, do Brasil e de outras seleções sul-americanas, não querem, com
razão, disputar a Copa América. Se a Argentina desistiu, por causa
da pandemia, por que marcar no Brasil, em cima da hora e no momento grave da
doença? A Copa América atende aos interesses financeiros da Conmebol e das
confederações dos países. O governo brasileiro é o fiador da competição. Depois
dos dois jogos das Eliminatórias, os jogadores e Tite devem
se pronunciar.
Na vitória por 2 a 0 sobre o
Equador, o Brasil teve uma atuação ruim no primeiro tempo, quando
teve somente uma clara chance de gol, e boa no segundo tempo, após as
modificações, quando o time criou seis oportunidades para marcar. O Brasil
mostrou o jogo habitual, bom para ganhar dos adversários sul-americanos, mas
ainda bastante preocupante quando enfrentar as melhores equipes europeias. Na
segunda etapa, Gabriel Jesus e Richarlison atuaram abertos, saindo Fred. Ele,
Gabigol e Alex Sandro, titulares na partida, tiveram atuações apagadas.
Na
análise de desempenho de uma equipe, é fundamental o número de chances claras
de gol, muito mais importantes que as finalizações, mesmo quando acertam o
alvo, além da posse de bola, dos passes certos e de outras informações
estatísticas.
As
estatísticas do futebol dão grande contribuição às análises, desde que sejam
acompanhadas pelo olhar observador dos detalhes, pelo bom senso e pelo
conhecimento científico. O conhecimento vai muito além das informações e dos
números.
Evidentemente,
haverá, em alguns lances, opiniões diferentes sobre se foi ou não uma chance de
gol. Não é um dado estatístico digital, mas é necessário. Deveria ser feito
pelo próprio comentarista do jogo. Basta anotar em um caderninho ou em um
celular e somar as oportunidades.
O time pode
chutar dezenas de bolas ao gol, algumas no alvo, e não ter nenhuma chance clara
de gol. Ou o contrário, o atacante pode entrar livre na área, ter tudo para
marcar, se enrolar com a bola, até ser desarmado.
O tempo de
posse de bola e o número de passes certos ajudam na avaliação, desde que seja
levado em conta onde se deu mais a posse de bola, o tipo e a dificuldade do
passe, os passes que resultaram em chances de gol, os erros de passe que
beneficiaram bastante o adversário e tantos outros detalhes. O passe é o
símbolo do jogo coletivo.
Craques do
passado, mestres do passe, como Xavi, Gérson e Didi, não envelhecem. Continuam
modernos, modelos atuais de meio-campistas que atuam de uma intermediária à
outra.
Kroos é o
símbolo atual do grande passador, preciso nos passes curtos e longos. Ficará na
história como um armador que não erra passes. Porém, falta a Kroos a
intensidade, a mobilidade e a capacidade de avançar de uma intermediária à
outra, para finalizar ou dar o passe para gol. Ele me passa a impressão que
poderia ser ainda muito melhor do que é, que economiza talento.
Já Kanté possui um passe comum,
correto, porém se destaca mais pelo desarme, pela intensidade e pela capacidade
de estar em todas as partes do campo. É o símbolo do meio-campista
moderno. De Bruyne não tem o passe perfeito de Kroos nem a
intensidade do desarme de Kanté, mas possui, em alto nível, todas as virtudes
de um meio-campista.
A vitória
sobre o Equador mostrou mais uma vez o óbvio, que falta um grande armador para
atuar ao lado de Casemiro. Contra fortes seleções, isso poderá ser decisivo.
[Ilustração: Juliane Mercante]
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