Bolsonaro e seus acólitos
estúpidos destroem saúde pública impunemente
Justiça
não tem o direito de se omitir em meio aos ataques do governo à vacina, pondo
em risco a vida de todos
Drauzio
Varella, Folha de S. Paulo
A Justiça
precisa punir os criminosos que atentam
contra a saúde pública.
Se continuar de braços cruzados, tem que explicar para a sociedade por que
razão não o faz.
No último fim
de semana fui convidado a participar de um abaixo-assinado redigido
por professores da USP,
em repúdio a um documento do Ministério da Saúde que teve o descaramento de
insistir na farsa da eficácia
da hidroxicloroquina, característica que faltaria às
vacinas, segundo eles.
Assinei,
claro, como o fizeram 45 mil colegas nas primeiras 24 horas.
Apesar da
adesão em massa, estou certo de que será mais uma ação incapaz de alterar o rumo das
políticas adotadas por um ministério desmoralizado, comandado por um lambe-botas
incompetente, com credibilidade abaixo de zero, que envergonha a nossa
profissão sob o olhar subserviente do Conselho Federal de Medicina.
Há um ano,
jornalistas, médicos e cientistas aparecem nos meios de comunicação de massa
para repetir à exaustão que as vacinas são seguras e
protegem contra as formas graves da doença, afirmações defendidas por todas as sociedades médicas.
Não conheço um único médico com um mínimo de formação científica que conteste a
necessidade de vacinarmos a população; os que atacam as vacinas na
internet ou no
governo são ignorantes, curtos de inteligência ou mal intencionados, não há
quarta alternativa.
Em
contraposição, o ministro e seus auxiliares encarregados do trabalho sujo fazem
o possível para desacreditar a vacinação
e semear dúvidas sobre a segurança das preparações aprovadas pela Anvisa, uma das agências mais respeitadas do
mundo.
O empenho em
confundir o povo é tão grande que o ministro da Saúde, acompanhado da ministra
que teve o privilégio de receber Jesus no alto de uma goiabeira, viajaram para
Lençóis Paulista decididos a explorar o caso de uma
menina que teve parada cardíaca horas
depois de receber a vacina.
A ministra se
apressou a divulgar a "suspeita" pelo Twitter, sem mencionar que o
laudo médico já havia concluído que o episódio não guardava relação com a
vacina. Na mesma plataforma, o ministro curtiu a mensagem da colega.
Para completar
o show de horrores e de oportunismo rasteiro, o próprio presidente da República
se deu ao trabalho de telefonar para os familiares da criança, em contraste com
o desprezo às 623 mil famílias brasileiras que perderam entes queridos na
pandemia.
Enquanto na
Inglaterra o primeiro-ministro pode
cair por causa de uma festinha que
contrariou as recomendações oficiais de isolamento social, no Brasil, o
presidente, o ministro da Saúde e seus acólitos escolhidos a dedo nas
catacumbas da estupidez humana conspiram contra a saúde pública sem que nada
lhes aconteça.
Essa pandemia
é mais prolongada do que esperávamos. A variante ômicron se dissemina numa
velocidade impressionante.
Em mais de 50 anos de medicina nunca vi virose tão contagiosa. Os mais
velhos diziam que a varíola era assim, mas não cheguei a ver porque a vacinação
varreu o vírus da face da Terra.
Não podemos
nos iludir, essa variante não vai nos imunizar coletivamente. Tenho vários
pacientes que tiveram Covid, receberam as três doses da vacina e adoeceram
outra vez nas últimas semanas, embora com sintomatologia discreta.
Se a doença
provocada pelas variantes anteriores não produziu níveis de anticorpos
suficientes para evitar a infecção pela ômicron, que certeza pode haver de que
não emergirá uma nova cepa capaz de driblar a imunidade induzida por ela? O
SARS-CoV-2 permanecerá entre nós.
Quanto mais
contagiosa for a variante e mais pessoas não vacinadas disseminarem o vírus,
mais tempo ele terá para sofrer novas mutações.
Enfrentar
epidemia de tal complexidade exige especialistas competentes, coordenação
centralizada, serviços de saúde organizados e políticos conscientes de suas
responsabilidades, para convencer a
população de que todos devem se vacinar e tomar os demais cuidados para reduzir
ao máximo a transmissão.
Admitir que
autoridades inescrupulosas se dediquem a fazer exatamente o oposto, pondo em
risco a saúde e a vida de todos impunemente, é um péssimo exemplo para lidar
com esta e com as futuras epidemias. A Justiça não tem o direito de se omitir,
precisa deixar claro para as próximas gerações que crimes contra a saúde
pública devem ser punidos com rigor em nosso país.
.
Será aceitável que 9 crimes tão graves fiquem impunes? https://youtu.be/sJ2lSvc193E
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