O
outro alagoano
A.
SÉRGIO BARROSO
Portal da Fundação Mauricio Grabois
Em 2000, enquete entre 18 “ilustrados” do estado, na
Gazeta de Alagoas, divulgou-se nossa personalidade do século XX: Graciliano
Ramos (Quebrangulo; 1892-1953). Mestre Graça ganhou o mundo com Vidas Secas,
sabe-se. Mas, muito restrita, a pesquisa “esquece” o genial compositor Hekel
Tavares (Satuba;1896-1969), que sequer é mencionado. Entretanto, mais que
provavelmente captara uma expressão da realidade: em segundo lugar aparece
outro tesouro das letras, o jurista Pontes de Miranda (Maceió;1892-1979).
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda tem o essencial de
sua obra, sua formação e seus signos minuciosamente desenhados no referido
ensaio de Vasconcelos Filho (Maceió, mvf, 2020). Que busca encontrar os nexos
da epistemologia em que mergulhara Pontes de Miranda. E logo o autor nos
delicia com uma síntese da estatura do jurista, no delicioso “A coruja e o
jaguar: Introdução” (pp. 23-30).
A Sociologia, o Direito, a Antropologia, a Literatura
(prosa e poesia), a Biologia, a Física, etc. foram objeto das pesquisas (e
teses) da vastíssima obra do jurisconsulto alagoano. Vasconcelos Filho nos
mostra, a exemplo, a acolhida pela editora parisiense Aillaud, Alves & Cia,
através do conhecido editor Francisco Alves, de seu primeiro livro “À margem do
Direito”, quando aos 18 anos de idade. Ou, a recomendação do revolucionário da
física moderna Albert Einstein em publicar nos Anais do V Congresso
Internacional de Nápoles, o texto “Concepção do Espaço” (Vosterllung von Raume,
1924-25), do nosso jurista.
Pontes de Miranda teceu uma gigantesca obra de 155 tomos,
sendo seu “Tratado do Direito Privado” composto de nada menos 60 volumes; como
lembra o professor e prefaciador Marcos Bernardes de Mello, cada um com cerca
de 500 páginas. “Não há na literatura jurídica, em todos os tempos e em
qualquer espaço, obra alguma, mesmo coletiva, com essa dimensão” – assevera
Mello.
Muito importante – porque redescobre, informa, retrata,
desvela, analisa e conceitua -, o estudo de Marcos Vasconcelos Filho insere, ainda,
a enorme contribuição de Pontes de Miranda – crítico acautelado do capitalismo
(p.136) - num amplo cenário cultural, filosófico e político, brasileiro e
internacional.
Ideias de um pensador original, imerso no positivismo de
Auguste Comte, na militância “socialista democrática” (p. 143), e finalmente
defensor dum (utópico) “Estado socialista de fins precisos”; de uma
“globalização mais livre, igualitária porque democrática” (p. 149), quase
arremata Vasconcelos Filho.
*Médico, doutor em Desenvolvimento Econômico (Unicamp)
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