Cartomantes do mercado
Luciano Siqueira
Neste século 21 da
inteligência artificial e avanços tecnológicos em todas as direções, nem sei se
ainda existem as populares cartomantes.
Na minha infância
ouvia falar delas como videntes competentes a que alguns recorriam porque
desejavam antecipar o futuro sobre o qual combinavam curiosidade e angústia;
outros delas mantinham distância porque preferiam alimentar expectativas e
esperanças sem nenhum indicativo prévio do quinhão de felicidade a alcançar.
Pois bem. A poucos
dias do terceiro governo Lula, grandes veículos midiáticos exibem análises
pretensiosas sobre o futuro imediato do país.
Arriscam previsões
praticamente em todas as áreas — da economia e das finanças ao meio ambiente e
até mesmo ao imaginado padrão de relacionamento entre ministros desta ou
daquela corrente política com o presidente, o Congresso e seus colegas de
Esplanada.
Como se costuma
dizer, papel aceita tudo... e as plataformas digitais também.
Tirante palpites meio
que diversionistas, predomina mesmo a defesa dos interesses do todo poderoso
mercado — o capital financeiro que tem as rédeas do sistema capitalista que
quase todo o mundo.
Lula tem diante de si
uma imensa carteira de problemas sociais a enfrentar? Sim, ninguém
discorda.
É preciso recuperar a
educação pública esfaqueada por Bolsonaro e seus desastrados ministros,
ressuscitar o SUS e retomar investimentos em ciência, tecnologia e inovação?
Ninguém tem coragem de negar.
Até mesmo a questão
crucial de promover a recuperação das atividades econômicas tendo como fio
condutor a indústria, via pesados investimentos públicos em infraestrutura,
parece recolher de tais jornalistas um sim unânime.
Porém tudo isso há
que se resolver dentro dos limites de um inviável teto de gastos, para que a
remuneração do capital rentista se mantenha firme e forte em favor dos que
ganham com taxas de juros elevadas e fazem a festa com a usura em todas as suas
dimensões!
Então, a pressão
midiática tenta conduzir antecipadamente o governo em nome do rentismo. Mas no
meio do caminho tem uma pedra — o próprio presidente da República a ser
empossado no dia primeiro de janeiro à testa de um governo de frente ampla e de
compromissos sociais básicos, que já aprendeu a honrar com considerável grau de
eficiência.
Nada será fácil, tudo
implica pressões e contrapressões. Daí a necessidade de contrapor às poderosas
cartomantes no mercado a legítima mobilização popular que sindicatos, entidades
e instituições da sociedade civil têm o dever de realizar.
A cada passo haverá
disputas cujos desenlace é impossível prever.
Vamos à luta!
Leia também: Não pode haver no Brasil um teto
fiscal que leve à fome https://bit.ly/3UtVnOS
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