Retorno ao bate-papo à mesa?
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Em uma crônica de 1907, Olavo Bilac se queixava de que havia poucos leitores de jornais porque letrados eram poucos os cidadãos.
Se mais gente soubesse ler, assegurava, bem que podíamos ter mais uns 10
jornais diários na cidade de São Paulo.
Hoje, praticamente já não se lê jornais impressos — embora alguns ainda
estejam nas bancas ou nas casas dos assinantes.
Mesmo os assinantes na grande maioria preferem, como eu, a versão
digital.
Jornais diários já não disputam leitores apenas com ouvintes de rádio
ou, como passaram a fazer há algumas décadas atrás, telespectadores.
São as redes sociais que galvanizam as atenções.
E uma profusão de canais, podcasts e blogs a que se tem acesso
instantaneamente na tela do celular.
Com um detalhe: predomina a comunicação sonora e visual mediante vídeos
curtos, no intuito de prender a atenção da vítima por não mais do que 20
segundos.
Especialistas na matéria dizem que o suprassumo da eficiência está
exatamente na mensagem instantânea!
Então, se os jornais de outrora eram instrumentos da classe dominante
destinados a formar o consenso necessário à manutenção do status quo, mas
dependiam da leitura, hoje a comunicação digital transmite a ideia e a emoção —
infelizmente, em infinita extensão —, mediante fake news e estímulos vários que
elevam o nível da dopamina o suficiente para provocar o vício.
A coisa é tão avassaladora que gera uma espécie de falso consenso de que
tudo hoje se faz pelo smartphone, tornando quase dispensável o contato pessoal,
olhos dos olhos, no compartilhamento de ideias e sentimentos.
Mas parece não ser bem assim. As pessoas necessitam, sim, do chamado
diálogo presencial.
Escreve Bruno Natal no ICL Notícias que “as redes sociais aos poucos estão deixando de ser sociais. Plataformas como Facebook, Instagram,Twitter, TikTok que eram usadas para manter contato com amizades e família se transformaram e hoje em dia são um deserto de posts pessoais... Um dos motivos é uma maior consciência sobre os riscos da superexposição, incluindo em relações de trabalho.”
Assim, militantes e ativistas,
empenhados na construção e uma consciência social avançada, são desafiados a
explorar toda oportunidade de convivência entre as pessoas — no trabalho, no
lazer, no movimento reivindicatório e nos modos de existência cotidiana.
A novidade, ainda incipiente, mas promissora, é que cresce mundo afora o percentual de internautas que buscam refúgio em grupos fechados no WhatsApp e aplicativos semelhantes, temendo a "invasão de domicílio" e a manipulação criminosa da própria imagem.
Uma espécie de retorno saudável à conversa em torno da mesa, aos olhares e ao aperto de mão.
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