Capital versus trabalho em tempo de crise
Luciano Siqueira
União de todos em torno de medidas anticrise. Essa idéia força repetida à exaustão pelo presidente Lula tem esbarrado em resistências que resultam de contradições reais. Nas oposições, por exemplo, à direita e à “esquerda”, movidas pela expectativa política de que os efeitos da crise desorganizem a economia do país, trave o crescimento e prejudique os trabalhadores e a população mais pobre e melhore as condições da disputa eleitoral em 2010. Se o projeto de desenvolvimento em construção sob o governo Lula vem produzindo bons resultados – apesar de equívocos, insuficiências e vacilações do governo -, que ele desmorone o quanto antes – torcem os oposicionistas inspirados na máxima de quanto pior, melhor.
Mas a união de todos vem enfrentando outro obstáculo na enorme dificuldade (ou impossibilidade mesmo) de convergirem momentaneamente os interesses dos que detém o capital e dos que vivem do trabalho – essa contradição fundamental do modo de produção capitalista. O pronunciamento, anteontem, da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros) é uma manifestação explícita disso.
A CTB rechaça a proposta da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) de redução de jornada com redução de salários, suspensão temporária do contrato de trabalho e banco de horas como alternativas de enfrentamento da crise. Em nota assinada pelo seu presidente, Wagner Gomes, a central se pronuncia em termos contundentes contra a redução dos salários, “que pode agravar a situação, comprimindo o mercado interno e adicionando novas dificuldades à comercialização das mercadorias produzidas pela indústria.”
“A classe trabalhadora não tem a menor responsabilidade pela crise e não é justo que pague por ela. A recessão exportada pelos EUA decorre das contradições internas do processo de produção capitalista. Se alguém deve pagar pela crise que sejam os ricos capitalistas, que acumularam grandes lucros na fase de expansão do ciclo econômico, principalmente no setor financeiro”, assinala a nota.
Intransigência? Certamente não. Antes, a consciência de que historicamente nas crises cíclicas do sistema – e está é uma crise estrutural, profunda e de conseqüências ainda não mensuradas – é precisamente sobre os trabalhadores que recaem as conseqüências mais dramáticas, a partir da redução drástica da oferta de postos de trabalho. Mais: os bancos, recentemente beneficiados pela flexibilização do compulsório, teimam em restringir o crédito tentando tirar todo o proveito da concessão feita pelo governo – como o próprio presidente Lula denunciou há algumas semanas atrás.
Resta saber se o empresariado brasileiro terá a capacidade de mediar com equilíbrio e bom censo seu comportamento diante da crise, convivendo com uma taxa média de lucro menor e admitindo a manutenção dos direitos essenciais dos trabalhadores. Não é fácil, independe da vontade de cada um; é a lógica intrínseca do sistema que conspira em sentido contrário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário