Juros altos: até quando?
Luciano Siqueira
Após a recente audiência das principais centrais sindicais com o presidente Lula, começam a se multiplicar país afora manifestações de trabalhadores em defesa do emprego e do salário e contra a política de juros altos. Das duas uma: ou o presidente não se convenceu dos argumentos dos sindicalistas em favor da mudança de nossa política monetária; ou ambos – presidente e líderes sindicais – confirmaram a convicção de que só a mobilização popular pode dobrar essa política.
Lula, ao contrário do que faz comumente, evitou maiores comentários sobre a conversas com os sindicalistas. Seria uma oportunidade para se pronunciar publicamente sobre o assunto. E, se em sentido positivo, ficaria bem na fotografia, pois são quase unânimes na sociedade os argumentos em favor da mudança da política monetária. Os fatos que os sustentam, mais do que claros.
Como tem assinalado o economista Paulo Nogueira Batista Junior, representante do Brasil no Conselho do FMI, a política monetária brasileira está demorando a se adaptar às novas circunstâncias. Em conseqüência, vem aumentando a já elevada diferença entre os juros praticados no Brasil e as taxas verificadas nos 40 principais mercados desenvolvidos e emergentes do mundo. Nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Japão, a taxa real básica é negativa em 2,6%, 2,4% e 1,4%, respectivamente.
Nos chamados mercados emergentes, há desde taxas moderadas a negativas, em termos reais. Na China, o juro básico real é atualmente de 1,5%; no México, 2,3%. A Rússia e a Índia praticam juros reais negativos, respectivamente de -0,7% e -4,0%.
Por que é tão danoso para o Brasil manter taxas elevadas? Porque elas contribuem para acirrar a ameaça de retorno ao quadro de crescimento medíocre do qual a duras penas temos conseguido escapar, com a conseqüente elevação dos índices de desemprego e subemprego.
No entanto, há quatro reuniões sucessivas o Comitê de Política Monetária Copom) vem aumentando a taxa do juro básico. A pressão dos sindicalistas visa exatamente pressionar o Copom – com a concordância do presidente Lula? – a mudar de atitude na reunião de hoje, quarta feira.
As centrais propõem uma redução pela metade do que atualmente é praticado pelo mercado financeiro em nosso país, para que cheguem a um juro real de 3,5%. Essa seria uma condição sine qua non para que não interrompamos o crescimento econômico e possamos manter o emprego e a renda em padrão minimamente satisfatório.
É acompanhar para ver.
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