Governar é arriscoso e sujeito a incompreensões
Luciano Siqueira
Sujeito a incompreensões estamos todos nós, porque a vida é assim. A linguagem, esse marco da evolução da sociedade humana, nasceu justamente da necessidade de comunicação entre seres vivos que se faziam rudimentarmente conscientes acerca do mundo em que viviam. A escrita – um passo adiante - surgiu inclusive associada à burocracia, na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, onde surgiram as primeiras civilizações urbanas, cidades de Lagash, Umma, Nippur, Ur e Uruk, entre o sexto e o primeiro milênio AC. Para o registros contábeis relativos a produtos
agrícolas e pecuários, a cargo dos escribas – funcionários qualificados de então.
Sempre sujeita, a comunicação oral ou escrita, a diferentes percepções da vida, das coisas, dos sentimentos.
E viver, portanto, é arriscoso – como diz o personagem de Guimarães Rosa – e quem não quiser correr riscos que tente se proteger numa imaginária redoma.
Agora transporte isso para o ato de governar. Aí, amigo, frequentemente os problemas são mesmo complexos, comportam muitas leituras e variadas interpretações; e mais do que isso, sofrem a influência do conflito de interesses, seja econômicos, seja políticos.
O prefeito João da Costa nem bem começa a governar e já experimenta isso em toda plenitude. Anuncia contenção de gastos com o custeio da máquina administrativa e ao invés de palavras elogiosas, recolhe da oposição e de grande parte da mídia dúvidas, insinuações, desconfianças. Uns por dever de ofício, pelo menos assim entendem. Outros, pelo simples hábito de desconfiar de tudo o que seja gesto praticado por quem tem a responsabilidade de governar. Foi-se o tempo em que se acreditava nas pessoas “até prova em contrário”. Agora, no ambiente de denuncismo indiscriminado que contamina a mídia e a opinião pública, de modo tão exagerado que perturba a capacidade crítica das pessoas, desconfia-se de tudo e de todos, até que provem que são sinceros, corretos e agem com lisura. O ônus da prova não é de quem acusa, é do acusado!
O que se tem cobrado do prefeito João da Costa é detalhes sobre onde espera cortar gastos, por que mais aqui do que acolá e quejandos – como se fosse possível na administração esse grau de preciosismo, como se a dinâmica da vida não fosse mais forte do que o pretenso rigor burocrático.
O que vale – permitam dizer - é a decisão política, anunciada pelo prefeito, e a sua determinação em vê-la cumprida por seus auxiliares. Aos que estão de fora, sem prejuízo do exame crítico, cabe cobrar resultados.
Muito diferente seria se o prefeito, a despeito das evidentes repercussões da crise global sobre a receita municipal (nas suas diferentes fontes), seguisse adiante como se nada de novo estivesse acontecendo. Aí, sim, caberia a denúncia de uma gestão no mínimo temerária.
Bom, quem escreve esse breve comentário não é nenhum ingênuo. Nem o leitor, certamente. Alguns fazem da medida de austeridade adotada pelo novo prefeito mote para atacar o antecessor, de reconhecido êxito confirmado pelo voto popular.
Que assim seja, pois arriscosa é a vida – e mais ainda a gestão pública. Cabe a cada cidadão julgar gestos, propósitos e opiniões.
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