Integrar é bom, mas não é fácil
Luciano Siqueira
Tão desejável quanto necessária, a integração das ações de governo é um desafio dos mais difíceis. Implica um conjunto de variáveis objetivas e subjetivas que em boa medida dizem respeito à cultura da fragmentação incrustada na administração pública em nosso país – em todos os três níveis federativos.
Por mais que se mostre aparentemente consensual a percepção de que compartilhar um mesmo projeto mediante ações articuladas e integradas entre diversos órgãos do governo representa otimização de recursos humanos, materiais e financeiros e maior eficiência, no cotidiano da gestão pública as coisas acontecem de maneira muito diferente. Ninguém é contra, porém quase ninguém adere; todos, ou quase todos, preferem agir por conta própria e frequentemente sem ter em conta os esforços que a secretaria ou empresa afim realiza na mesma direção.
Via de regra fala mais alto a preocupação quanto a quem caberá os louros do êxito e prevalece a disputa pelo reconhecimento ao final da ação empreendida.
É uma lógica infernal. Subreptícia, enganosa, quase irrefreável – que reclama mudança de concepção e comportamento. Daí a dificuldade de integrar.
Nos oito anos recentes no governo do Recife, essa foi uma luta constante – ora conduzida com clareza de propósitos e métodos razoavelmente adequados; ora a base apenas da boa intenção. Alcançamos êxitos em algumas áreas, na maioria falhamos.
Mas há, sim, boas experiências. Um exemplo é o Carnaval – essa verdadeira operação de guerra que envolve secretarias, empresas, autarquias, Guarda Municipal, enfim praticamente todo o governo. De maneira irrecusável: as necessidades estão ali, batendo à porta, e ninguém pode evitar agir em conjunto.
Outra experiência satisfatória tem sido o programa Guarda Chuva, conjunto de ações sistêmicas e continuadas sobre morros, encostas e áreas alagadas o alagáveis visando preparar a cidade para o período de chuvas. Neste caso, a variável território ajuda, uma vez que as ações são dimensionadas e dirigidas para espaços bem definidos da cidade.
De toda sorte – e sem pretender formulações definitivas – a vida tem demonstrado que ao gestor público sinceramente interessado na integração do governo cabe combinar a luta de idéias (para superar paradigmas ultrapassados) com um persistente esforço de articulação da equipe – valendo-se dos bons resultados como exemplo demonstrativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário