No Blog da Folha:
Autonomia e independência entre sindicatos e governos
Por Luciano Siqueira*
Nos jornais de hoje, questionamentos sobre o desempenho do PT no movimento grevista dos professores da rede estadual. Dá até para entender o raciocínio: se o PT está no governo, como permitiu que a greve se instalasse?
Certo ou errado? Muito errado. É claro que há militantes do PT, do PCdoB e do próprio partido do governador, o PSB, atuantes na categoria e integrantes da diretoria do sindicato. Mas isso não confere aos partidos a que pertencem o poder de interferir arbitrariamente nas decisões da entidade. Influenciam, sim, como todo e qualquer cidadão que se oriente por essa ou aquela linha política e seja capaz de abordar os problemas do setor da luta popular onde esteja à luz de suas concepções políticas. Isso é positivo sobretudo para combater o corporativismo que, via de regra, prejudica os movimentos sociais.
Mas é preciso sublinhar que os sindicatos representam toda uma categoria profissional, muito além dos seus filiados militantes de partidos. O sindicato, nesse sentido, é apartidário; deve preservar a sua autonomia e a sua independência em relação aos governos, mesmo quando dirigidos por governantes e partidos aliados. Essa é uma regra de ouro do convívio democrático.
É certo que ainda há um duro aprendizado nessa matéria, tanto da parte dos que atuam nos movimentos sociais, os sindicatos em particular; como da parte dos que estão do ouro lado balcão, nos governos. Uma apenas aparente contradição no seio dos partidos de esquerda: governam e ao mesmo tempo participam de movimentos que freqüentemente guardam uma relação de conflito com os governos. Caso dos funcionários públicos, sobretudo. São distintos papéis a serem exercidos com serenidade e competência.
Nem os movimentos podem tratar governantes aliados como inimigos, nem os governantes podem criminalizar os movimentos. No início do governo Lula boa parte do movimento sindical manteve o discurso que sustentava em relação ao governo anterior, de FHC, aquele sim, inimigo dos trabalhadores. Demorou a entender o novo papel de Lula, que governaria para os brasileiros, e não exatamente para os brasileiros organizados em sindicatos.
O governo, por seu turno, subestimou a necessidade do diálogo constante com as centrais sindicais. Demorou a acertar o prumo. Hoje esse diálogo existe, sem que signifique cooptação do movimento, nem supressão de contradições e conflitos.
A greve dos professores da rede estadual tem suas razões. Melhor focar a atenção nas negociações em busca de um acordo do que cobrar dos partidos uma interferência indevida sobre as decisões soberanas do movimento.
*Luciano Siqueira (PCdoB) é vereador do Recife
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