03 julho 2009

A força dos sindicatos em meu artigo semanal no site da Revista Algomais

Nem Michael Jackson, nem Sarney
Luciano Siqueira

Já que semanalmente conto com a sua atenção e a sua paciência para com essas breves linhas, desta vez sinto-me no dever de pedir desculpas: não falarei da morte prematura do astro pop Michael Jackson, nem das agruras do presidente José Sarney e do Senado – assuntos dominantes em todas as mídias como se nada mais estivesse acontecendo digno de registro.

É que há uma informação muito mais interessante. Pelo menos para os que sobrevivem do próprio trabalho. O DIEESE divulgou estudo demonstrativo de que de 100 negociações salariais verificados nos primeiros cinco meses deste ano, 96% possibilitaram a recomposição das perdas ocorridas ao longo de 2009. No ano passado, o percentual foi menor: 89%.

Por outro lado, as negociações que alcançaram reajuste menor do que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diminuíram de 11% em 2008 para 4% em 2009, sendo o valor de referência do INPC de 6,18%. Os números são sempre positivos quando se referem à indústria e ao setor de serviços. Os reajustes acima da inflação na indústria chegaram a 83%; e os que apenas recompuseram as perdas inflacionaram saltaram de 28% para 58%.

E veja o quadro no setor de serviços: as categorias que tiveram perdas salariais passaram de 14% para 4%, as que tiveram aumento passaram de 71% para 78% e os reajustes iguais à inflação passaram de 14%, em 2008, para 18% em 2009.

Há nesses números dois significados. Um, a capacidade reivindicatória dos sindicatos. O outro, a boa reação da economia brasileira à crise global.

O fato é que em tempo de recessão normalmente os sindicatos se enfraquecem e o poder de barganha dos trabalhadores, idem.

Como o desaquecimento da economia brasileira não chega a se caracterizar plenamente como recessão, e há sinais claros de recuperação, o ambiente para a luta sindical é pelo menos razoável. Há o que negociar por meio da pressão, que em alguns casos envolve até greves. Os empresários, por seu turno, têm seus motivos para ceder em favor da manutenção da mão de obra necessária à produção em patamar exigido pelo mercado.

Bom sinal no horizonte econômico, enorme incentivo à luta dos trabalhadores. E muito mais útil do que o meloso noticiário fúnebre em torno do cantor-bailarino pop e do rame-rame acerca das estripulias de boa parte dos senadores e funcionários graduados da Casa. www.lucianosiqueira.com.br

Nenhum comentário: