O sangue que nos faz?
À luz de estudo recente sobre o reconhecimento de paternidade com base no exame de DNA, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte aborda a ideologia ocidental do parentesco de sangue e suas múltiplas implicações, em contraste com outros modelos culturais.
. Um dos valores mais arraigados de nossa cultura é o da consanguinidade, ou seja, o da descendência ou parentesco pelo ‘sangue’. Embora hoje recoberta pela ideia dos genes, fenômeno recente, essa representação ancora a pessoa humana na base naturalista de nossa visão de mundo: somos feitos da matéria combinada de nossos pais e mães; eles, de seus respectivos pais e mães, e assim até o primeiro casal de Homo sapiens.
. Efetivamente, como todos os mamíferos superiores, somos sexualmente diferenciados, dependemos de uma reprodução sexuada, e o desamparo original dos infantes humanos exige um longo suporte coletivo quase universalmente oferecido por um pequeno círculo doméstico.
. Esses dados biológicos de base são, porém, matéria de uma das mais complexas elaborações simbólicas da humanidade: os sistemas de parentesco. Não há sociedade que não tenha se dedicado a definir rigorosamente as regras dos casamentos possíveis e proibidos de seus membros – a chamada ‘proibição do incesto’.
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