Luciano Siqueira
Publicado no Jornal da Besta Fubana
Cresci e amadureci ouvindo que a gente é como vinho: quanto mais velho, melhor. Por isso concordei de imediato com um amigo que me disse certa vez que quando a gente passa dos cinquenta atinge a melhor fase da vida, se aproxima do auge da capacidade intelectual e é pena que nem sempre a resistência física dê totalmente pro gasto.
E assim segui até hoje, orgulhoso dos meus cabelos brancos e crente de que – como diria um jogador de futebol – estou em ótimas condições físicas, psicológicas e táticas. Mas eis que leio uma má notícia: nosso cérebro começa a declinar a partir dos quarenta e cinco anos!
É o que afirmam pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm) francês e da University College de Londres. Eles se baseiam numa série de testes de memória, vocabulário, raciocínio e expressão oral a que foram submetidos 5198 homens e 2192 mulheres de 45 a 70 anos. Isto em 10 anos de acompanhamento médico e realização de exames individuais.
Assim, em 10 anos, o rendimento de raciocínio caiu 3,6% para os homens de 45 a 49 anos, e 9,6% para os de 65 a 70 anos. Já as mulheres tiveram desempenho semelhante: menos 3,6% para o primeiro grupo etário e menos 7,4% para as de 65 a 70 anos.
Se a notícia não me agrada, pior é a recomendação de uma tal Archana Singh-Manoux, coordenadora da equipe francesa: "é importante determinar a idade de início do declínio cognitivo, já que possivelmente é mais eficaz atuar desde o começo, em particular com medicamentos, para mudar a trajetória do envelhecimento".
Medicamento uma droga! Por que não atividade intensa, de preferência em benefício do bem comum? Pois o que mantém a gente vivo – em especial os de cabelos brancos – é justamente o fazer coisas úteis, que de lambujem exigem reflexão e tomada de decisões. Ócio e medicamentos, sei não, só fazem piorar.
Enquanto isso, os autores da pesquisa se engalfinham na determinação da fase exata em que o declínio cognitivo começa, se aos 60 anos ou antes. Que gastem seu tempo nessa polêmica, deixando em paz a turma da chamada boa idade.
Isso mesmo! Pelo menos em minha experiência pessoal e no que me é dado observar nas minhas relações com a população, desmiolado fica apenas quem não tem com que se preocupar.
Na política, as coisas funcionam em moto contínuo, sempre trazendo novos desafios, envolvendo interesses díspares e muitas vezes conflitantes, reclamando apreciação aprofundada e conscienciosa de problemas complexos.
O mesmo se pode dizer dos que batalham duro pelo ganha pão, aos quais não se permite a simples contemplação da vida que passa.
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