Luciano Siqueira
Quem se alia com quem em torno de que projeto e sob que
liderança? A questão toma corpo a cada
episódio eleitoral, quando o jogo de forças se faz a um só tempo complexo e
instável no ambiente político brasileiro. Muito diverso de países da Europa,
por exemplo, de poucos partidos e matizes políticos e ideológicos
estratificados e em certa medida imutáveis.
O Brasil é diferente. “Não é para principiantes”, já se
disse. Aqui, além da imensidão do território e das acentuadas diversidades
regionais – históricas, econômicas, sociais, culturais -, que se refletem no
comportamento dos partidos, grupos e líderes proeminentes em cada lugar, o
espectro partidário comporta nada menos que trinta e duas legendas. Verdade que
há partidos constituídos de fato e de direito e legendas legalmente respaldadas,
porém basicamente cartoriais. Agremiações programáticas, não muitas; e uma
maioria de natureza circunstancial, digamos.
Mas o fato é que na hora da onça beber água, ou seja, quando
se aproxima o embate eleitoral, constituem-se alianças nas quais não será pelas
aparências que nelas se encontrarão a coerência e a legitimidade, mas sim pela
sua essência. E esta há que se reconhecer no projeto político de cada coalizão
partidária constituída.
Mais: seja porque a força do fator local, do regionalismo –
como acentuou Afonso Arinos de Melo Franco em opúsculo sobre a teoria e história
dos partidos políticos no Brasil -, seja pelas “facilidades” da legislação
eleitoral, alianças concertadas em plano nacional obrigatoriamente não se confirmam
em plano estadual. Assim, nas eleições gerais do ano vindouro, partidos podem
estar juntos em torno de determinada candidatura presidencial, porém separados
e em palanques opostos nos estados.
Nesse ambiente caleidoscópico, onde encontrar “coerência
ideológica e política”, tão reclamada por analistas acadêmicos (em geral
distantes da cena política concreta)? Certamente não será no desenho das siglas
coligadas, e sim nas proposições que cada coligação sustenta.
Cá na província, por exemplo, Miguel Arraes elegeu-se três
vezes governador, sempre liderando frentes políticas amplas e heterogêneas. Foi
o meio de juntar forças reconhecíveis pelo eleitorado e produzir a maioria de
votos necessária. Entretanto, nas três ocasiões, o ideário básico sustentado
por sua candidatura pôde ser identificado no apego aos interesses fundamentais do
povo e à defesa da soberania nacional. Se incoerência havia, esta esteve em
correntes políticas pouco identificadas com esse ideário, mas conduzidas pela
necessidade de compartilhar espaços institucionais conquistados pelo voto – que
seriam inviáveis fora da frente ampla, isoladamente.
Lula governou oito anos à testa de frente nacional
amplíssima; Dilma assim se elegeu; como também Eduardo Campos em Pernambuco. O fio
da meada está no programa adotado.
Agora, mirando 2014, intenso é o movimento visando a
concertação de alianças. Por enquanto, carente de nitidez programática. Adiante,
contudo, quem defende o quê haverá de se explicitar – sobretudo no pleito
nacional, onde estará em jogo a continuidade das mudanças realizadas na última
década versus o risco de retrocesso.
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