28 setembro 2018

Desemprego crônico


A crise no mercado de trabalho no Brasil permanece, posando um desafio ao próximo presidente
Quase 13 milhões de pessoas - ou mais do que toda a população da Grécia - está sem emprego, com a taxa de desemprego entre 12 e 14% desde 2016. Como resultado, o desemprego está entre as principais preocupações dos eleitores frente às eleições do mês que vem

Gabriel Stargardter, Reuters, reproduzido na Carta Maior

Depois de perder seu emprego em uma empresa estrangeira de alimentos em março, Alexander Costa pesquisou o mercado de trabalho anêmico do Brasil e decidiu começar a vender lanches baratos na praia no Rio de Janeiro para tentar prover para sua família.

“Eu poderia ter ficado em casa, procurando emprego, mandando currículo, com poucos empregos..as coisas estão muito difíceis”, disse Costa. “Mas não fiquei parado. Decidi criar algo diferente...me reinventar.”

Muitos outros brasileiros também tiveram que se reinventar nos últimos anos, enquanto a maior economia da América Latina batalha para superar sua crise no mercado de trabalho mais de um ano depois de sair oficialmente de uma recessão.

Quase 13 milhões de pessoas – ou mais do que toda a população da Grécia – está sem emprego, com a taxa de desemprego entre 12 e 14% desde 2016. Como resultado, o desemprego está entre as principais preocupações dos eleitores frente às eleições do mês que vem.

A busca desesperada por emprego entre uma série de escândalos de corrupção e o aumento na violência azedou o clima, polarizando o debate e distraindo dos desafios fiscais do país.

Mas somente diminuindo a taxa de desemprego que o país alcançará o aumento nos gastos nos lares que precisa para manter um crescimento contínuo, disse Marcos Casarin, líder de pesquisa da América Latina na Oxford Economics.

“O único jeito de ter uma recuperação prolongada na atividade econômica é se o desemprego começar a cair substancialmente”, ele disse.

No entanto, pode levar muitos anos para ter a taxa abaixo de 10%, ele disse, adicionando: “Não estou muito otimista”.

FIGURAS DESAGREGADORAS

Sem probabilidade de conquista da maioria no primeiro turno da eleição do dia 7 de outubro, parece cada vez mais provável que os eleitores enfrentarão uma escolha no segundo turno dia 28; Jair Bolsonaro de extrema-direita e o esquerdista Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores.

Ambas são figuras desagregadoras – rejeitadas por quase metade dos eleitores – tornando possível que qualquer um dos dois encare uma batalha para passar reformas econômicas que os investidores estrangeiros esperam há tempos.

Bolsonaro prometeu apagar o déficit orçamentário primário do país até 2020 com privatizações controversas e cortes de gastos.

Haddad propôs ampliar as atribuições do Banco Central para incluir o desemprego, enquanto estimula investimentos estatais, revogando o teto de gastos e submergindo privatizações.

Ambos Bolsonaro e Haddad estão propondo maneiras de abordar a crise no mercado de trabalho, que levou muitas pessoas ao setor informal, enfraquecendo a coleta de impostos e deixando trabalhadores sem férias pagas, aumentos salariais e outros benefícios.

O presidente Michel Temer no ano passado passou uma reforma das leis trabalhistas do país, a qual foi intencionada para tornar o mercado de trabalho mais flexível e prometida para ajudar a criar novos empregos, um efeito que ainda não se concretizou.

Bolsonaro apóia a reforma de Temer e quer ampliar maiores cortes laborais para incentivar mais empregos. Haddad sugeriu fazer um referendo sobre a reforma trabalhista, essa última tendo sido rejeitada por sindicatos, enquanto também defenderá um programa de estímulo à curto-prazo.

Costa, no entanto, não estava disposto a esperar pra ver o que o próximo presidente vai inventar.

Seu negócio começou devagar, vendendo lanches de R$13 na mala do carro no bairro rico da Barra da Tijuca. Mas o negócio melhorou quando uniu forças com seu amigo Stefan Weiss, cuja BMW branca fornece uma loja mais chique da onde eles vendem agora 200 refeições quentes por dia.

“No momento, o Brasil encara um grande problema em relação à economia e à falta de empregos”, disse Weiss, que trabalha em uma plataforma de petróleo em alto mar mas vende refeições nos dias de folga. “As pessoas que perderam seus empregos estão tentando achar jeitos de se estabelecer no mercado.”

*Publicado originalmente no reuters.com | Tradução de Isabela Palhares
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