AI 5, 50 anos: a
Pátria nos chama
Luciano
Siqueira
A cada data redonda, não apenas
historiadores, mas nós outros simples mortais também revisitamos episódios de
nossa História.
Como hoje, data em que se assinala 50 anos da edição do Ato Institucional número 5, que se constituiu no aprofundamento do caráter absolutamente antidemocrático do golpe militar de 1964.
Com o AI 5, liberdades democráticas e direitos dos cidadãos foram completamente aniquilados. E, na sequência, se estendeu a prática de prisões arbitrárias, torturas e assassinatos que marcou com sangue e dor a trajetória do povo brasileiro.
Militante ativo do movimento estudantil na então Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, integrante da Ação Popular, junto com companheiros havia passado a madrugada pichando muros do Recife com a inscrição "AI 5 é contra o povo. Abaixo a Ditadura!". E logo cedo, tive que encarar uma prova oral de Fisiologia.
Recordo-me que em meu entusiasmo juvenil sequer cuidara de trocar a calça Topeka salpicada de tinta vermelha, nem retirar totalmente a tinta impregnada nas unhas das mãos.
Ocorre que, por sorteio, calhou de eu ser arguido precisamente pela professora Naíde Teodosio, destacada pesquisadora e influente militante comunista.
A prova, que em média deveria durar uns 10 minutos, se estendeu por quase quarenta!
É que vencida a arguição, passamos a debater as implicações do "golpe dentro do golpe" e as múltiplas formas de resistir.
Dizia a saudosa professora Naíde que uma frente ampla deveria ser buscada, incluindo até oficiais de alta patente das Forças Armadas eventualmente insatisfeitos com os rumos que o regime tomara.
Eu tinha uma enorme dificuldade de compreender a ideia da frente ampla. Como todo bom neófito, me atraiam expetativas mais radicais, imaginando que a ruptura completa do Estado de Direito faria o povo reagir com igual radicalidade e, quem, sabe, a revolução tão sonhada estivesse às portas.
Na própria AP, e sobretudo no PCdoB a partir de 1972, agora já na militância clandestina e afeito ao estudo teórico e a reflexão política mais fundamentada, viria a compreender o peso e a importância da conjugação de forças para enfrentar o inimigo comum.
No PCdoB, a resolução "A união dos patriotas para livrar o Brasil da ditadura, da crise e da ameaça neocolonialista" me abriria definitivamente a mente para assimilar a essência da tática revolucionária, a um só tempo combativa e ampla e flexível, e escoimar do meu raciocínio militante qualquer laivo de sectarismo e estreiteza.
Hoje, na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo — conforme noticia o Vermelho — será lançado o Manifesto em Defesa da Democracia, que conta com mais de duas mil adesões de intelectuais, artistas, lideranças populares, empresários e profissionais de diferentes áreas.
Como hoje, data em que se assinala 50 anos da edição do Ato Institucional número 5, que se constituiu no aprofundamento do caráter absolutamente antidemocrático do golpe militar de 1964.
Com o AI 5, liberdades democráticas e direitos dos cidadãos foram completamente aniquilados. E, na sequência, se estendeu a prática de prisões arbitrárias, torturas e assassinatos que marcou com sangue e dor a trajetória do povo brasileiro.
Militante ativo do movimento estudantil na então Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, integrante da Ação Popular, junto com companheiros havia passado a madrugada pichando muros do Recife com a inscrição "AI 5 é contra o povo. Abaixo a Ditadura!". E logo cedo, tive que encarar uma prova oral de Fisiologia.
Recordo-me que em meu entusiasmo juvenil sequer cuidara de trocar a calça Topeka salpicada de tinta vermelha, nem retirar totalmente a tinta impregnada nas unhas das mãos.
Ocorre que, por sorteio, calhou de eu ser arguido precisamente pela professora Naíde Teodosio, destacada pesquisadora e influente militante comunista.
A prova, que em média deveria durar uns 10 minutos, se estendeu por quase quarenta!
É que vencida a arguição, passamos a debater as implicações do "golpe dentro do golpe" e as múltiplas formas de resistir.
Dizia a saudosa professora Naíde que uma frente ampla deveria ser buscada, incluindo até oficiais de alta patente das Forças Armadas eventualmente insatisfeitos com os rumos que o regime tomara.
Eu tinha uma enorme dificuldade de compreender a ideia da frente ampla. Como todo bom neófito, me atraiam expetativas mais radicais, imaginando que a ruptura completa do Estado de Direito faria o povo reagir com igual radicalidade e, quem, sabe, a revolução tão sonhada estivesse às portas.
Na própria AP, e sobretudo no PCdoB a partir de 1972, agora já na militância clandestina e afeito ao estudo teórico e a reflexão política mais fundamentada, viria a compreender o peso e a importância da conjugação de forças para enfrentar o inimigo comum.
No PCdoB, a resolução "A união dos patriotas para livrar o Brasil da ditadura, da crise e da ameaça neocolonialista" me abriria definitivamente a mente para assimilar a essência da tática revolucionária, a um só tempo combativa e ampla e flexível, e escoimar do meu raciocínio militante qualquer laivo de sectarismo e estreiteza.
Hoje, na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo — conforme noticia o Vermelho — será lançado o Manifesto em Defesa da Democracia, que conta com mais de duas mil adesões de intelectuais, artistas, lideranças populares, empresários e profissionais de diferentes áreas.
Iniciativa oportuna, que deve se
espraiar por todo o país, tamanha a dimensão das ameaças autoritárias que pairam
sobre a nação desde a vitória do capitão Bolsonoro no recente pleito
presidencial.
Tal como antes, vale agora a consigna do Frei Caneca: “Quando a Pátria nos convoca, nada mais importa do que atender a esse chamado. Que liberdade é essa se a língua é escrava?"
Tal como antes, vale agora a consigna do Frei Caneca: “Quando a Pátria nos convoca, nada mais importa do que atender a esse chamado. Que liberdade é essa se a língua é escrava?"
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