Relações mal ensaiadas
Luciano Siqueira
Entre os movimentos atabalhoados do novo governo a
se iniciar em primeiro de janeiro, salta aos olhos o modo inábil como pretende
se relacionar com o parlamento.
Sob o pretexto de repudiar os partidos, que seriam
instituições “nocivas” e prestigiar bancadas temáticas – evangélica, ruralista,
da bala, etc. -, a montagem do ministério teria ocorrido até agora à margem de
qualquer negociação com dirigentes partidários e líderes parlamentares.
Entretanto, deputados não reeleitos, integrantes do
chamado baixo-clero, recrutados para ajudarem diretamente o futuro ministro
Onix Lorenzoni (ele também elemento dessa camada pouco qualificada do
Congresso), passaram a negociar diretamente com parlamentares avulsos,
oferecendo-lhes cargos nos Estados e vendendo a ideia de que, assim,
eles se tornarão uma forte liderança regional, segundo reportagem da Folha de
S. Paulo deste domingo.
Também
aí a intenção é fragmentar mais ainda as já fragmentadas bancadas partidárias e
enfraquecer seus líderes.
Esse
esquema estaria encontrando guarida principalmente entre parlamentares do PSD e
do PR, que juntos constituirão bancada de 67 deputados na próxima legislatura.
Mas há resistências.
Sobretudo no PP e MDB, que se
dispõem a ser base do governo, próceres mais experimentados alimentam a
expectativa de que esse “modelo” faça água já na primeira votação importante
para o governo.
Aí entrariam em cena a turma experimentada e realmente
influente, forçando o governo a mudar de atitude.
Contam inclusive com a falta de experiência do capitão
presidente quanto à dinâmica parlamentar, pois em seus sucessivos mandatos
jamais passou de integrante, ele também, do baixo clero, ausente das tratativas
para a aprovação ou a rejeição de matérias importantes e de qualquer negociação
entre lideres e a Mesa das Casas legislativas.
Ao campo oposicionista, cabe observar os acontecimentos com
atenção e presteza para, quando possível, explorar competentemente contradições
nas hostes governistas.
Vale lembrar o ex-presidente Fernando Collor, que anos após
o seu indigitado governo, veio a reconhecer que um dos seus erros crassos foi
precisamente não ter valorizado as relações entre o Executivo e o Legislativo.
O capitão futuro presidente não é dado a aprender com a História
e tem demonstrado imaginar que o céu é perto...
Que futuro terá?
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