23 dezembro 2018

Metendo os pés pela mãos


Sequência interminável de bobagens
Luciano Siqueira

A equipe ministerial do novo governo, antes mesmo de assumir, tem brindado o País com uma sequência interminável de bobagens.
Perigosas bobagens, pois têm algo em comum: ou atingem direitos sociais, ou atentam contra a soberania nacional.
No mínimo, afetam a nossa economia através de presepadas que podem redundar em sérios prejuízos ao comércio exterior.
A anunciada, e ainda não completamente confirmada, transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém de imediato provocou turbulência com a comunidade dos países árabes, cuja região é a principal compradora de produtos de origem animal do Brasil, como carnes bovina e de frango e também dinâmica em áreas como aviação militar e investimentos, conforme acentua a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
Os países árabes são o 5º principal destino de produtos brasileiros. Compraram cerca de US$ 10 bilhões de janeiro a setembro deste ano.
O Brasil tem déficit na balança comercial com apenas quatro, dos 22 países árabes: Argélia, Marrocos, Arábia Saudita e Catar.
Agora, em entrevista ao jornal ‘O Estado de São Paulo’, a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina – figura exponencial da chamada bancada ruralista na Câmara dos Deputados – anuncia a pretensão de alterar o processo de inspeção de carnes e derivados produzidos no País, acabando com a fiscalização diária do governo.
O endereço da medida é óbvio: beneficia principalmente os frigoríficos, hoje submetidos a auditorias diárias feitas por técnicos do ministério.
Ela quer que o setor adote “práticas de autocontrole”, com protocolos de segurança estabelecidos pelo governo, mas sendo auditados pelo poder público apenas “de tempos em tempos”.
Ou seja, a raposa passa a cuidar do galinheiro – com o aval oficial do ministério da Agricultura.
Querer beneficiar seus parceiros econômicos e políticos é até compreensível num futuro governo ágil em alardear moralidade, porém mais ágil ainda em cuidar de acenar com privilégios aos segmentos da grande economia que lhe deram respaldo na campanha e continuarão a dar a partir de janeiro.
Mas ridículo é a senhora Tereza Cristina desconhecer que – como alerta o atual ministro da Agricultura, Blairo Mogi – que a inspeção oficial diária é uma exigência do mercado internacional.
Portanto, a prevalecer a intenção (má intenção, melhor dizendo) da futura ministra, seria afetado um mercado que, em 2016, exibia um faturamento de US$ 5,5 bilhões, tendo sido embarcadas para o exterior mais de 1,4 milhão de toneladas. 

Apesar dos escândalos evolvendo o grupo JBS e outros, a exportação de carne bovina cresceu 11% em 2018, sobretudo Hong Kong, com transações da ordem de US$ 879 milhões.

O episódio é mais um dos que se anunciam sob os olhares complacentes do novo presidente, que tem a pachorra de repetir “não entendo de economia”, como uma espécie de aval prévio às “caneladas” dos seus futuros ministros.

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