Juventude sem perspectiva
Luciano
Siqueira
Na juventude repousa boa parte das expectativas de progresso
de uma nação. O escritor russo Maximo Gorki escreveu que “a juventude tem a
face do amanhã”.
No recente período Lula-Dilma, se ampliaram
significativamente as conquistas sociais e ascendia uma juventude muito pobre
que se inseria no mercado de trabalho e avançava nos estudos, sobretudo em
escolas técnicas e faculdades.
Era um cenário novo, promissor. A ponto dos movimentos
juvenis substituírem a convencional análise de ausência de perspectiva por um “novo
tempo” de oportunidades.
Avanços que, embora significativos, ainda era insuficientes,
tamanha a demanda historicamente reprimida.
E nos últimos dois anos de governo golpista, as condições de
vida de nossa juventude se agravam rapidamente.
Agora, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), trás
a luz estudo realizado em nove países da América Latina e Caribe, onde a taxa
de jovens do Brasil que não estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”,
atinge 23%, maior que a média dos países pesquisados.
Segundo o Ipea, 21% dos jovens com idades entre 15 e 24 anos
fazem parte do grupo sem trabalho ou estudo, correspondendo a 20 milhões de
pessoas.
O Brasil também tem o maior índice de indivíduos
completamente ociosos nessa faixa etária.
Aproximadamente 12% desses jovens não fazem tarefas
domésticas, não ajudam em cuidados familiares ou em negócios dos pais e também
não procuram emprego.
Tudo a ver com o incremento da violência criminal urbana.
Na ausência de ocupação e de perspectiva, jovens são
facilmente atraídos para atividades ilícitas, de renda imediata aparentemente
fácil.
Capturados por organizações criminosas, adotam um caminho sem
volta.
Portanto, temos uma parcela da população do País a um só
tempo estratégica para o evolver civilizatório e, infelizmente, marginalizada.
A este dado se deve ajuntar uma gama de outros, como a densidade
demográfica, a densidade de habitantes por domicílio, a ausência de
alternativas de lazer nas áreas periféricas da cidades grandes e médias, o
consumo de álcool e de outras drogas, o baixo nível de escolaridade, a pressão
consumista reverberada pela grande mídia tradicional e pela internet, a
falência das políticas sociais preventivas da violência, a deterioração e o
desvio ético das polícias, a impunidade e assim por diante.
Mais: a abordagem espetacular e glamorosa da violência criminal
pela própria mídia, seja no noticiário diário, seja através de filmes cujos
personagens centrais são “justiceiros”, policiais ou mesmo criminosos caracterizados
pelo uso brutal e sofisticado da violência.
Pior: estamos às vésperas de um novo governo pautado pela
distorcida compreensão de que as mazelas sociais devam ser encaradas como caso
de polícia.
Uma quadra de sombria perspectiva para a juventude brasileira.
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