26 março 2019

Angu de caroço


Estratégia ou incompetência?
Luciano Siqueira

O noticiário diário é pródigo em problemas no governo Bolsonaro, criados pelo próprio presidente, seus filhos ou o dito filósofo Olavo de Carvalho, que de Miami envia torpedos contra os generais ocupantes de ministérios e outros desafetos.
Veja bem: as turbulências internas no entorno do presidente não resultam de pressão oposicionista, que ainda é tímida e relativamente desarticulada; resultam do bate cabeças entre os próprios governistas.
“Agravamento da crise” é uma expressão frequente nas manchetes e notas nas colunas políticas.
Isto com pouco mais de dois meses de governo.
No centro do furacão, o próprio presidente a demonstrar diariamente seu despreparo para o exercício do cargo. Sobretudo quando se trata do relacionamento com o Congresso Nacional, onde embora conte com maioria numérica inicial ainda não conseguiu estruturar bancadas governistas.
Também nas relações diplomáticas, pontificando na cena mundial como um chefe de Estado destrambelhado, submisso aos EUA, e ridicularizado pela mídia estrangeira.
Mas há quem diga – pasmem – que tudo isso faz parte de uma estratégia. O capitão presidente seria movido, passo a passo, por um rumo bem definido a um só tempo destinado a alavancar a economia sob atrelamento a Wall Street e a acuar o parlamento a ponto de submetê-lo aos ditames do governo.
Se a isso se pode chamar de estratégia, que se acrescentem os adjetivos irresponsável e inconsequente.
Mais ainda quando as pesquisas revelam rápida queda de popularidade do presidente e do seu governo. Já não há tanta gordura assim para queimar e a boa vontade da população vai se esvaindo.
No sistema político brasileiro, em qualquer conjuntura, Executivo e Legislativo devem manter relações mutuamente respeitosas e produtivas. Um entrosamento indispensável ao exercício do governo.
Ignorar a pluralidade das representações partidárias no Congresso e a influência que sofrem das realidades locais e regionais, num país tão desigual e complexo, leva a lugar nenhum. Ou ao caos institucional.
Nesse contexto, ponto para a oposição – se souber agir com clareza, unidade e sagacidade. Explorar as contradições no governo e se valer da insatisfação generalizada entre as bancadas partidárias e mesmo as ditas temáticas.
A começar pela reforma da Previdência, tema epidérmico na população que forma as bases eleitorais dos congressistas.
É jogo duro, a ser jogado com firmeza de propósitos e esperteza.
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