Uísque digitalizado, não. Por favor
Luciano
Siqueira
“Eu bebo sim!/Estou vivendo/Tem gente que não
bebe/E está morrendo...”, diz a canção.
Estou
entre os que bebem e seguem vivendo, mas bebo pouco – preferencialmente em
casa.
Portanto,
não tenho nenhuma autoridade para falar isso ou aquilo desta ou daquela bebida.
Apenas
gosto de uma boa cachaça, pura.
Cerveja,
se for bem gelada e em instante de calor. Na praia, melhor ainda.
Vinho
prefiro tinto, não mais do que duas taças porque me provoca acidez.
Uísque
tem a minha preferência. Vasodilatador, estimulante e inspirador tanto na
leitura como em outros prazeres da vida.
Modestamente
vejo-me no dever de me insurgir contra a tentativa de “digitalizar” minha
bebida predileta.
Como
assim?
Empresas
de TI, Bespoken Spirits, Lost Spirits e a
Cleveland Whiskey, sediadas no Vale
do Silício, nos EUA, se propõem a antecipar em dias o envelhecimento do uísque,
que normalmente leva anos.
Parece que têm
até uma máquina de ressonância magnética para observarem a reação no cérebro de
eventuais consumidores da bebida submetidos a teste.
O uísque envelhecido
em velhos barris quase artesanais, por anos a fio, tem seu charme. E sabor.
Há uma espécie
de mística em torno de algumas marcas famosas.
Cá em minha
insignificância alcoólica, quando médico residente ganhei muitas vezes garrafas
de cachaça de cabeça presenteadas por pacientes gratos pelos meus préstimos. Em
recipientes apropriados, usei uva, acerola, hortelã, cajá, caju e outras frutas
para envelhecimento da mistura.
Certa vez abri
uma garrafinha da pinga com acerola que guardara há sete anos e me surpreendi
com o sabor digno dos melhores conhaques!
Passei a exibi-la
como troféu, até que fosse inteiramente consumida.
Não é estranho
que uma bebida envelheça por processos comandados por algoritmos? Mesmo se tiver
um sabor razoável, esse artificialismo a descredenciará.
- Um uísque,
por favor. Do tradicional. Digitalizado, não!
Veja: Um toque de leveza e bom
humor https://bit.ly/2XgnENa
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