Covid
com alta recorde e lotação de UTIs: especialistas listam motivos para parar o
país por ao menos 2 semanas
Exemplos vindos do Reino Unido e Israel mostram, segundo
especialistas, que medidas de restrição adotadas por menos de 15 dias e
campanha de vacinação sem isolamento social são incapazes de conter o avanço da
pandemia.
Laís Modelli, G1
Praias e comércio fechados, toque de recolher e barreiras sanitárias em todo o país por, pelo menos, duas semanas. É o que defendem especialistas ouvidos pelo G1 como medidas nacionais e coordenadas que o governo federal deveria adotar em março para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, que já registrou recordes em apenas dois meses de 2021.
Segundo os especialistas ouvidos pelo G1, os argumentos listados abaixo mostram a necessidade de um lockdown nacional (bloqueio geral), com medidas duras de restrição de circulação, durante o mês de março no Brasil:
·
Diante do
agravamento geral da pandemia, o país não conseguirá diminuir
as transmissões se cada estado adotar uma medida diferente;
·
Exemplos de
outros países mostram que medidas curtas e pontuais,
menores que 15 dias, não geram resultados consistentes;
·
Quanto menor a circulação da população, menor a chance de o vírus encontrar
pessoas suscetíveis à infecção;
·
Reino Unido
e Israel conseguiram controlar as transmissões com uma combinação de lockdown e vacinação em massa.
Necessidade de ação nacional
Membro
da diretoria do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Vanja dos Santos explica que,
diante do iminente colapso do sistema de saúde em quase todos os estados, as
ações precisam ser nacionais para serem eficazes.
"No momento de caos generalizado em que estamos, ou paramos e fechamos tudo, ou vamos dobrar essas mais de 250 mil mortes pela Covid-19 que tivemos em um ano em um tempo muito menor" , disse Vanja dos Santos, membro da diretoria do CNS.
Santos explica que o CNS e demais órgão nacionais que integram a "Frente Pela Vida" pedem ao governo federal ações unificadas desde o ano passado. Com o agravamento da pandemia em fevereiro, o segundo mês com maior número de mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, a paralisação das atividades em todo o país é tema no CNS.
"Na nossa última reunião, na
terça-feira (23), discutimos medidas urgentes para o Brasil neste momento, como
fechar todo o comércio, praias e serviço não essencial por duas semanas, assim
como estipular um toque de recolher, implementar barreiras sanitárias pelo país
e fazer testagem em massa", conta Santos.
Reino Unido: restrições longas
O
coordenador da Rede Análise Covid-19, o cientista de dados Isaac
Schrarstzhaupt, usa o exemplo do Reino Unido para explicar que medidas
curtas e pontuais, menores que 15 dias, não alteram a curva de transmissão.
"O Reino Unido está no seu
terceiro lockdown e começará a flexibilizar as medidas neste 1º de março, mesmo
com o avanço da vacinação por lá. A flexibilização
será devagar e escalonada. Locais como salão de beleza, por exemplo, reabrirão
apenas em abril", diz Schrarstzhaupt.
"No Brasil, vimos governos
estaduais e prefeituras decretarem lockdowns isolados, o que é válido, mas por
somente alguns dias. Analisando os dados do Reino Unido, vemos que o período é
muito curto para que se tenha uma diminuição dos casos", compara.
No primeiro lockdown britânico, iniciado em 23 de março de 2020, Schrarstzhaupt explica que os casos começaram a estabilizar apenas no 16º dia de restrições.
No segundo lockdown, começado em 5 de
novembro, o cientista aponta que os casos começaram a cair depois de 13 dias.
Mesmo assim, o governo britânico manteve as restrições por mais 15 dias,
terminando o segundo bloqueio nacional apenas em 2 de dezembro.
"Toda a vez que se coloca
alguma medida de restrição de mobilidade, há uma redução no número de casos,
mas essa redução pode não ser proporcional ao tamanho do problema. Por isso,
quanto maior o número de pessoas infectadas, mais duras e longas devem ser as
restrições" , afirma Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise
Covid-19
Israel:
lockdown e vacinação em massa
Em
dezembro, ao mesmo tempo em que iniciou a vacinação em massa contra a Covid-19,
Schrarstzhaupt aponta que Israel decretou seu terceiro confinamento nacional.
"A estratégia israelense para conter a pandemia tem sido vacinar em massa
e restringir circulação", explica Schrarstzhaupt.
Israel já vacinou mais da metade da população com ao
menos uma dose, e a imunização por si só não foi vista como única estratégia.
Diante disso, o governo fechou o maior a aeroporto internacional do
país por duas semanas em fevereiro e manteve os demais fechados por um mês.
O país também adotou medidas como
proibir qualquer cidadão de se distanciar mais de um quilômetro de sua
residência.
Tais medidas ainda estão em vigor em
Israel. Algumas foram flexibilizadas mais de um mês após o decreto do
terceiro lockdown, e somente para os que já foram completamente imunizados com
as duas doses da vacina.
O vídeo abaixo mostra os resultados
positivos da vacinação no Reino Unido e em Israel.
Medidas precisam ser coordenadas entre estados
A
diretora do CNS afirma que a entidade pede que o governo federal coordene e
unifique as medidas contra a pandemia desde meados de 2020. "Pedido que o
governo federal nunca atendeu", afirma Santos.
"Se um estado restringe a
circulação das pessoas e fecha comércio, mas outro não faz o mesmo e as
fronteiras continuam abertas, será muito difícil para aquele que impôs as
medidas conseguir impedir que uma variante chegue ao seu estado, por
exemplo", aponta Schrarstzhaupt.
Outra entidade que pede há meses uma coordenação nacional das medidas contra a Covid-19 é o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que divulgou nesta segunda-feira (1) uma carta com sugestões de medidas urgentes contra o iminente colapso das redes pública e privada de saúde diante do aumento dos casos de Covid-19 no Brasil.
Entre os pedidos do Conass estão a
adoção de um toque de recolher nacional, o fechamento de bares e praias, a
proibição de eventos presenciais e suspensão de aulas presenciais em todo o
país. A carta também critica a falta condução nacional unificada e coerente da
reação à pandemia.
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