Carta de quatro itens
a um empregado brasileiro
Cristina França*
Infelizmente a carta não é para uma
empregada brasileira. Ou empregade. Uma pessoa brasileirx. E este é o primeiro
item desta missiva. Exigir total apoio institucional, estatal, pessoal a esta
possibilidade, colocá-la na ordem diária, em cada ação, em cada discurso, para
que aconteça novamente em outro cenário, em outras condicionantes, sem
preconceitos de cor ou gênero. Empenhe-se para que logo uma sociedade
esclarecida esteja encravada na mente e no coração, no orçamento e nas obras
públicas deste país.
O segundo item é um apoio condicionado
pela transparência. Faça o que for preciso para nos reaver a dignidade sabendo
que estamos de olho em cada passo. Não se esconda. Não crie pensamentos
nebulosos. Não dê motivos para fofocas. Seja claro, preciso nos discursos.
Somos capazes de entender que há outros projetos sendo gestados, que há quem
não seja suficientemente humano, quem seja idiota o suficiente para defender,
sem limites, o capital. Caro presidente, o senhor não está sozinho, não é
herói, não é salvador, não é o tal. É um empregado brasileiro.
Terceiro, pense em comida 24h por dia.
A soberania alimentar das/os patroas/ões é a prioridade zero e só é o terceiro
item da carta porque antes deves ser contratado/eleito e a transparência é
condição sine qua non para que tenhamos certeza de que as 24h do dia são
empregadas corretamente. Tudo começa e acaba na comida: a saúde, o aprendizado,
o poder trabalhar, a alegria. Agricultura ecológica, sem agrotóxicos, a terra
como fonte de vida, não de lucro. Comida para dentro. É de umbigo estufado, não
de ar, que queremos olhar o mundo.
Neste quarto item o bicho pega. É
ululante. Mulheres como caminho. Qualquer solução para a crise humana na qual
estamos nos queimando passa pela geração da própria humanidade. E gera quem tem
útero. Sexualidade separada da maternidade, direitos reprodutivos
implementados, educação sexual nas escolas. Respeito à vida sem que ela nem
mesmo exista é a revolução necessária. Úteros demandam voz para gritar que não
são fornecedores de corpos precarizados a serem sugados pelo sistema. Entenda, presidente: qualquer homem que queira mudar a realidade deve combinar o jogo
com quem tem o poder de gerá-la. Incline-se. Este poder é nosso e não abrimos
mão do total controle sobre ele. Dito isto, a faixa é tua.
Antes de concluir quero deixar
hipóteses que a Ciência coloca sobre o fim do homem de Neandertal, que dominou
a Europa por 250 mil anos, com a chegada do africano Homo Sapiens há 30 mil
anos. O sapiens, mais longilíneo e talvez mais belo, agradaria mais às
neandertais que com eles copulavam mas tinham filhas/os estéreis dado que
descendiam de espécies diferentes. O sapiens dividiu as tarefas entre machos e
fêmeas, aprendeu a comercializar, enriqueceu seu horizonte ganhando a batalha
final e dominando tudo. Há uma hipótese porém extremamente interessante: é
possível que com taxa de natalidade 2% superior, e mortalidade 2% inferior, os
neandertais tivessem sobrevivido mais alguns milhares de anos ou existissem até
hoje. Ou seja, diríamos, no final das contas a coisa ficou entre a mulher e
Deus (ou a natureza, o que na minha opinião dá no mesmo).
*Jornalista
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