Coluna semanal no Vermelho:
A mosca e o elefante
Luciano Siqueira
A imagem é de Lênin, em acirrada polêmica sobre os rumos da luta revolucionária em fins do século XIX, criticando oponentes por tentarem transformar uma questão pequena e secundária no centro do debate. “Querem transformar a mosca num elefante!”, dizia.
É o que começa a acontecer nesse período pré-eleitoral, quando a polêmica em torno dos problemas municipais se inicia e tende a ganhar corpo após o Carnaval. Há casos em que a expressão do dirigente revolucionário russo se aplica. Como no Recife, em que pré-candidatos do DEM (ex-PFL) e do PPS se revezam na tentativa de generalizarem eventuais deficiências da atual gestão do prefeito João Paulo no intuito de passarem a impressão de que o governo é um fracasso.
Outro dia, por exemplo, um deles se queixava de que o ensino no Recife é uma lástima, argüindo com dados do MEC a respeito do ensino médio e se esquecendo de que cabe ao Estado, e não ao Município, a responsabilidade pela educação nessa faixa. Pior: descuidando do fato de que as deficiências apontadas são precisamente parte da herança deixada pelo governo passado, comandado pelos críticos de agora.
Jamais se investiu tanto em educação básica no Recife como agora, desde que Miguel Arraes, no início dos anos sessenta se apoiou numa rede informal de clubes sociais e esportivos, igrejas, ligas de dominó e outros para combater o analfabetismo e levar às escolas centenas de milhares de crianças então condenadas ao obscurantismo. Natural que aqui e acolá, hoje, tendo ampliado expressivamente a rede, a ponto de termos contratado, por concurso, cerca de dois mil e setecentos novos professores e mais de quatrocentos técnicos administrativos para suprimirem a nova demanda, se encontre deficiências numa ou noutra escola.
Aí vem o oposicionista e mete o pau tentando aumentar artificialmente o tamanho do problema e generalizá-lo.
Melhor seria que os que se nos opõem hoje mirassem suas críticas à nossa concepção de governo, às opções estratégicas que fizemos, ao exame dos investimentos físicos realizados, ao modo como abordamos os problemas estruturais da cidade, à prática democrática participativa instaurada, que envolve os mais diversos segmentos da sociedade.
Melhor seria, mas assim não é e nem será. Porque no embate de idéias sobre questões essenciais como essas, a direita leva flagrante desvantagem. Daí a tentativa de fazerem da mosca um elefante e, quem sabe, confundir a população.
Do lado de cá, cumpre elevar o nível do debate e centrá-lo no essencial; sem fugir entretanto de nenhuma das questões setoriais ou particulares que porventura venham à tona.
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