20 janeiro 2008

Lula, Cuba e a geopolítica mundial

A diferença, 40 anos depois
Sérgio Augusto Silveira*
sergioaugusto_s@yahoo.com.br

Vale uma avaliação da macropolítica, saindo um pouco do clima sucessório municipal. Essa macro é, neste momento, o lance mais ousado que está sendo praticado pela política externa brasileira, permitindo-nos notar a diferença enorme face a conjuntura de 40 anos atrás, marcada pela edição do Ato Institucional nº 5. Refiro-me a decisão do Governo brasileiro em desconhecer, ousadamente, o interesse imperial norte-americano e anunciar investimentos, em diversas áreas, somando nada menos que um bilhão de dólares na economia de Cuba.

Trata-se de gesto ousado porque, escancaradamente, afasta do caminho, sem pedir licença, o bloqueio econômico e diplomático americano contra a República Socialista de Cuba, cuja economia, por causa desse isolamento, tornou-se esquálida ao longo destes 49 anos de regime anti-capitalista. As únicas iniciativas anteriores para furar o bloqueio foram alguns gestos de membros da Comunidade Econômica Européia, a exemplo da Espanha que instalou, através do grupo Meliá, unidades hoteleiras para fins turísticos na ilha do herói libertário José Martí.

Essa passo importante dado pelo Governo brasileiro não tem nada de anti-capitalista, anti-Estados Unidos. Atende, sim, uma exigência estrutural deste sistema econômico, que é a sua necessidade de expansão e ingresso nas áreas, digamos, ainda virgens de investimentos pesados por parte de empresas privadas e estatais. Um deles, para exemplificar, será o ingresso da Petrobrás, com milhões de dólares, para explorar um campo petrolífero cubano, que de há muito sabe-se de sua existência.

Preocupado com o fantasma horrendo da recessão em seu arraial, os Estados Unidos – hoje com a atenção voltada para as eleições primárias para a sucessão de George Bush e temerosos com os sinais já mostrando a recessão econômica – não cometeram o menor gesto ou palavra para sair, como ocorreu em vezes anteriores, em defesa do bloqueio para isolar a experiência socialista cubana. O presidente Luiz Inácio da Silva se fez presente na ilha, diante das câmeras, microfones e jornais de todo o mundo, e não foi alvo da cara feia do império americano. Este, de resto, já deve ter compreendido que trata-se de uma investida do capital, como saída para a inclusão de Cuba neste contexto de avanço e desenvolvimento material do continente.

Realmente, uma diferença importantíssima está aí, revelando que as relações do gigante do norte com a América Latina, não são mais as mesmas que nos tempos do presidente democrata John Kennedy, um promotor do bloqueio. Agora, o que prevalece é a confiança nos vizinhos. Para isso, os anos de crescimento da economia brasileira dão o exemplo. E seus frutos se espalham, inclusive na direção da República Socialista do presidente Fidel Castro, necessitada de muito capital.
* jornalista

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