Debate incompleto
Luciano Siqueira
Não sei pelo resto do país afora, mas cá na província o debate eleitoral passou ao largo das questões nacionais. Como bem assinalou o pesquisador Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, mais parecia uma disputa para síndico.
Por que tanta estranheza? Pelo fato de que no Recife a tradição é de embates eleitorais altamente politizados, nos quais os problemas locais sempre são debatidos relacionados com as questões nacionais. Em 2000 e 2004 foi assim.
Em 2000, João Paulo candidato a prefeito e o autor dessas linhas como vice, nosso discurso se apoiou num tripé: crítica à gestão anterior, defesa de nossas propostas para a cidade e combate ao governo federal, explorando os vínculos do então prefeito e candidato à reeleição Roberto Magalhães com FHC. Pautamos, assim, o confronto de idéias.
Em 2004 o esquema se repetiu, agora no tripé defesa do governo que fazíamos, crítica às propostas dos adversários para a cidade e defesa do governo Lula. Novamente os campos estiveram definidos com nitidez.
No pleito recém-encerrado, ao contrário, nada mais houve que a exaltação, por parte da Frente do Recife vitoriosa com a candidatura João da Costa (PT e mais quinze agremiações), da convergência política com os governos estadual (Eduardo Campos) e federal (Lula). Os oposicionistas Mendonça Filho (DEM) e Raul Henri (PMDB) fugiram como diabo foge da cruz da crítica ao governo Lula, pressionados pela popularidade do presidente; e um deles, Carlos Cadoca (PSC), misto de apoiador de Lula e de Eduardo e oponente de nossa gestão, condenado a uma postura dúbia, parecia mais perdido do que cachorro de mudança.
Tudo bem que a maré não estava pra peixe, daí a fuga das questões nacionais por parte dos oposicionistas. E do lado de cá, nadando de braçadas na onda do altíssimo índice de aprovação de nossa gestão, permitimos a prevalência da tese da continuidade administrativa como argumento mais fácil e provavelmente mais compreensível pelo eleitorado. Suficiente para vencer.
Porém há um prejuízo nisso. A campanha deve servir para esclarecer a população acerca dos problemas cruciais que a atinge. E isso não se dá reduzindo o debate apenas à problemática local. Mormente neste instante em que se inicia, em Pernambuco, um novo ciclo de crescimento econômico determinado em boa parte por decisões políticas nacionais, como a localização no Complexo Portuário de Suape de importantes empreendimentos industriais de ponta com grandes repercussões sobre a vida no Recife e no ambiente metropolitano.
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