No Jornal do Commercio, por Cecília Ramos:
ENTREVISTA » LUCIANO SIQUEIRA
“Não cogito deixar a Câmara”
Campeão de votos entre os candidatos a vereador da Frente de Esquerda que elegeu João da Costa (PT) prefeito, o atual vice-prefeito Luciano Siqueira (PCdoB) comemora, amanha, os 13,1 mil votos que recebeu, com festa no comitê. O comunista, que retirou sua candidatura a prefeito em nome da unidade, obteve a segunda maior votação entre os 37 vereadores eleitos. Perdeu para André Ferreira (PMDB), que alcançou 15,1 mil votos. Siqueira garantiu ao JC que cumprirá o mandato até o fim. Falou sobre o desafio de João da Costa de afirmar “ identidade” própria e espera que o petista mantenha os atuais espaços do PCdoB na PCR.
JC - Após oito anos na prefeitura, o senhor se mudará para a Câmara em janeiro. Preparado para a mudança?
LUCIANO SIQUEIRA - Já estou combinando as atividades de vice-prefeito com a preparação para o mandato. Vou ouvir os vereadores. Na próxima semana, começo o cortejo de visitas aos grupos que eu freqüentei para me colocar à disposição. Quero prestar contas a cada seis meses.
JC - O senhor é um quadro político de peso no campo da esquerda, inclusive para disputas majoritárias. Pode também ser convidado a integrar o governo João da Costa.
SIQUEIRA - Não existe nenhuma especulação de que eu deva ser convidado para um cargo na prefeitura. O meu objetivo é assumir e concluir o mandato.
JC - E se João da Costa convidá-lo?
SIQUEIRA - Acho que não tem convite. Quem faz uma campanha com a disposição de compartilhar o mandato com a sociedade não pode de repente dizer: ‘eu não vou ser mais vereador’. A expectativa dos que votaram em mim é que eu contribua na Câmara.
JC - Então cumprirá todo o mandato?
SIQUEIRA - Em princípio, me sinto à vontade exercendo o cargo para o qual fui eleito. Prometi retornar aos locais por onde passei (na campanha) e submeter o mandato aos meus eleitores. Não me parece adequado politicamente mudar de rumo. Não cogito essa hipótese. Quero dar minha contribuição para melhorar a imagem da Câmara.
JC - A Câmara teve a imagem desgastada com o escândalo das notas fiscais frias dos gabinetes. Como pretende contribuir para resgatar a credibilidade do Legislativo municipal?
SIQUEIRA - Defendo mais transparência, prestação de contas regulares e que o mandato passe pelo crivo da população. A Câmara passou por esse momento muito difícil, mas no que diz respeito ao meu mandato, exercerei de forma compartilhada com a sociedade. Não vou impor que os demais vereadores exerçam dessa maneira.
JC - O Poder Legislativo tem a pecha de ser governista. Como o senhor avalia?
SIQUEIRA - Embora o PCdoB seja da base, quero contribuir para a independência do Legislativo. Vamos procurar manter boa relação (com a PCR), mas com independência e o perfil fiscalizador. Compartilhar ou discordar quando necessário.
JC - Que balanço o senhor faz da campanha majoritária?
SIQUEIRA - Ficou focada nas questões locais. Concordo com Túlio Velho Barreto (cientista político), quando ele diz que pareceu disputa para síndico. A expressão pode ser dura, mas o fato é que nessa disputa majoritária, diferente da de 2000 e 2004, não teve questões nacionais e não foi politizada. Esta foi administrativa. A segunda coisa é que foi uma campanha menos de rua e mais de mídia.
JC - Qual será o desafio de João da Costa?
SIQUEIRA - Ele tem um discurso político muito bom, porque vai além do PT e situa que fará não apenas a continuidade da gestão João Paulo, mas um novo governo, amplo e plural. Em 2000, João Paulo precisou provar que era capaz de governar o Recife. Havia uma desconfiança porque ele foi operário, oriundo do sindicalismo. O desafio de João da Costa é outro. Ele já tem capacidade administrativa. O desafio agora é se afirmar como João da Costa. Porque o “João é João” era só na campanha. Agora ele vai ter que mostrar seu próprio estilo e identidade. Não se trata de questionar o estilo de João Paulo. Só que João da Costa é outra pessoa.
JC - E a participação do PCdoB na PCR?
SIQUEIRA - Quando João da Costa dialogou com o PCdoB, antes mesmo da retirada da minha candidatura, ele dizia que estava convidando o PCdoB para se unir no primeiro turno e governar juntos. Ali, já dizia que o compromisso era manter os espaços do PCdoB. Vamos acreditar que teremos a mesma participação que temos hoje: a secretaria da Assistência Social, o IASC e a autarquia Sanear.
Nenhum comentário:
Postar um comentário