Em Natal, uma múltipla abordagem da Reforma Urbana
Luciano Siqueira
Reformas estruturais em nosso país historicamente sempre se deram basicamente por dois caminhos: um, abrupto, por decreto, sob regimes ditatoriais, como a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) no Estado Novo e a reforma universitária do final dos anos sessenta, sob a ditadura militar. O outro, cumulativo, lento, gradual, sinuoso, sujeito a idas e vindas, sob regimes democráticos.
A reforma agrária, por exemplo, com o tempo tem até mudado de conteúdo, pelo evolver da sociedade rural brasileira, e se arrasta.
A reforma urbana, a rigor teve seu pontapé inicial antes do golpe militar de 1964, quando arquitetos, urbanistas e lideranças políticas, reunidos no Hot el Quitandinha, no Rio de Janeiro, esboçaram um projeto de lei que tramitaria no Congresso. Mesmo nos anos de chumbo, progrediu sob o impulso da luta pela moradia. E com o advento do Estatuto da Cidade, promulgado há dez anos, passou a contar com um poderoso instrumento jurídico-formal.
Como, então, se pode lutar por essa reforma, ao lado de suas irmãs tributária, agrária, política, educacional e midiática? São múltiplas as formas, que reclama iniciativa, criatividade, persistência.
Vivi um bom exemplo em Natal, na última terça-feira, no seminário “10 anos do Estatuto da Cidade – desafios à gestão urbana e metropolitana”, promovido pelo Parlamento Comum da Região Metropolitana de Natal, que reúne as Câmaras de Vereadores da capital e dos municípios circunvizinhos Ceará-Mirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre, Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, São José do Mipibu e Vera Cruz – por proposta do vereador George Câmara (PCdoB).
Coordenei painel acerca do tema “Metrópole em formação: problemas da metropolização e suas relações com o Estatuto da Cidade”. Debate de altíssimo nível, a partir de intervenções consistentes e precisas dos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Francisco Wellington, Marcelo Tinoco, Dulce Bentes, Enilson Medeiros e Cícero Onofre, sendo relator o presidente da Câmara Municipal de Natal, vereador Edivan Martins.
Dinâmica econômica, connurbação, política habitacional, mobilidade urbana e transporte e saneamento ambiental receberam exame conciso e certeiro, à luz do Estatuo da Cidade, apontando a um só tempo problemas cruciais da nova metrópole, imediatos de médio e longo prazo, e indicações de como enfrenta-los.
Soluções que, segundo a unanimidade dos expositores, devem ser pactuadas entre os vários atores, públicos e privados, sob participação ativa e controle do movimento social. Mais: devem ser perpassadas por um planejamento real, vivo e – uma exigência a cada dia mais evidente – consorciado pelos poderes locais, com a presença do Estado e da União Federal. O que frequentemente esbarra numa cultura “individualista” que leva gestores locais a resistirem à ação conjunta, receosos de perderem o controle de presumíveis “feudos eleitorais”. Mas, quem sabe a realidade e a pressão da população interessada possam falar mais alto.
Embora nos impressos promocionais do evento não estivesse inscrita a palavra de ordem da reforma urbana, deu-se, assim, uma contribuição importante para essa luta.
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