Luciano
Siqueira, no Vermelho
Preferia não escrever agora sobre o assunto, mas um
desabafo pelo menos cabe: como é difícil encarar a derrota!
Refiro-me não ao nosso povo, curtido por vitórias e
insucessos em seu cotidiano. Somos capazes de reagir diante das maiores
adversidades. A História registra inúmeros episódios que atestam a nossa
bravura, a astúcia e a capacidade de aprender com as dificuldades. Danado é
ouvir e ler as múltiplas análises que apressadamente a chamada crônica
especializada produz como uma avalanche. Ícones artificialmente criados – como
a tal “família Scolari”, para enaltecer uma suposta capacidade de comando do
técnico Filipão – são descontruídos com enorme desfaçatez!
Na tradição revolucionária, a derrota é a mãe de
todas as vitórias. Sequer o exército mais poderoso do mundo, em qualquer época,
vence todas as batalhas. Vide o fracasso dos EUA no Vietnã. Daí a necessidade
tirar lições dos insucessos ser pré-requisito de novas vitórias. Na Rússia, as forças
revolucionários sofreram tremenda derrota em 1905-1907, gerando estragos de
toda ordem, sobretudo no terreno ideológico e político. Lênin e seus
companheiros foram capazes de extrair os ensinamentos pertinentes e em 1917
realizaram a primeira revolução proletária da História.
Querer que as coisas aconteçam de modo assemelhado
no futebol brasileiro seria ilusório. Começa que o comando se encastela numa
instituição de direito privado, a CBF, que se assenta em “princípios”
questionáveis sob todos os títulos. Demais, o futebol – a seleção brasileira em
especial – converteu-se de há muito em um grande empreendimento comercial,
sujeito às leis do mercado e distante, anos-luz de um planejamento de longo
prazo que considerasse todas as variáveis que fazem do nosso futebol marca
cultural e paixão do nosso povo.
Entretanto, torna-se até divertido examinar as
“teses” que precipitadamente vem à tona na mídia, na busca de explicar o
inexplicável: a derrota estonteante da última terça-feira, sobretudo porque o
escrete nacional não jogou, manteve-se petrificado e perplexo em campo, como
que anestesiado diante da responsabilidade que lhe cabia. Desarrumado
taticamente, carente de comando, incapaz de reagir. A partida em si está fora
da normalidade, talvez se explique muito mais pela psicologia do que por outra
disciplina. Pois mesmo adotando postura tática ingênua diante do time alemão, a
falta de “pegada” do nosso time ficou evidente. Faltou garra.
Enfim, há muito que analisar – não agora, com a
cabeça quente e às vésperas da incômoda disputa pelo terceiro lugar. Não dizem
que o tempo é o senhor da razão? Pois esfriemos nossas cabeças para, com calma
e descortino, nos dediquemos – especialistas e simples torcedores como o autor
dessas linhas – a compreender a situação atual e os desafios do futebol
brasileiro.
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