Aécio Neves está embriagado com os números do
último Datafolha. Toda esta euforia, porém, não se justifica e pode virar uma
baita ressaca.
Altamiro
Borges, na Carta Maior
Aécio
Neves está embriagado com os números do último Datafolha. Já alguns
“calunistas” da mídia, que detestam a “lulopetista” Dilma Rousseff, mas não
confiam plenamente na “ex-petista” Marina Silva, soltam rojões e garantem que a
reação do cambaleante tucano é inevitável. Toda esta euforia, porém, não se
justifica e pode virar uma baita ressaca. O Datafolha divulgado nesta
sexta-feira (19) apontou um aumento de apenas dois pontos percentuais nas
intenções de voto do presidenciável do PSDB – ou seja, dentro da margem de
erro. Ele subiu para 17% e ainda está distante dos 21% que ostentava antes da
trágica morte da Eduardo Campos e da “providência divina” de Marina Santos.
Os
apostadores do “mercado eleitoral” – e também os agiotas do mercado financeiro
– tentam criar um clima favorável a cada pesquisa. Não é para menos que elas já
viraram uma indústria, com uma nova sondagem a cada dois dias. Isto permite
enricar os donos dos institutos, arrecadar mais grana para as campanhas e
embolsar mais dinheiro na Bolsa de Valores. Os marqueteiros e os políticos
fisiológicos ficam mais ricos – e os rentistas, ainda mais. Dois dias antes do
Datafolha, o Ibope – do trambiqueiro Carlos Augusto Montenegro – já havia
jurado que Aécio Neves estava em alta. A pesquisa, muito estranha, serviu para
abortar o movimento pela renúncia do cambaleante tucano e para valorizar o seu
passe.
Tentativa
de conter a sangria - As duas sondagens revelam, no máximo, uma fotografia do
momento e não justificam tanta alegria do presidenciável do PSDB. Ela é falsa!
Nos últimos dias, Aécio Neves só teve péssimas notícias. Até o
coordenador-geral da sua campanha, o demo Agripino Maia, apunhou o tucano pelas
costas ao antecipar o apoio a Marina Silva. Marconi Perillo e Beto Richa,
governadores de Goiás e do Paraná, respectivamente, também bateram suas asas
tucanas para a candidata-carona do PSB. Já o ex-presidente FHC, mentor do
folião mineiro, andou se encontrando com o velho amigo Walter Feldman, o
ex-tucano que hoje coordena a campanha da ex-verde. O cenário era de uma
overdose de coisas ruins para Aécio Neves.
Jornalistas
mais críticos, menos chapa-branca, já apontavam os obstáculos da sua
candidatura. Em artigo no Estadão de segunda-feira (15), Julia Duailibi revelou
os dilemas dos tucanos. “Nos bastidores do PSDB, principalmente na ala
paulista, as principais lideranças do partido já discutem o caminho que o
partido deve tomar caso Aécio não passe para o segundo turno, cenário mais
provável hoje... Há uma ala que rechaça Marina, a considera uma aventura e que
diz que sairá do partido caso o PSDB declare apoio à candidata. Outra vê a
possibilidade de derrotar o PT como o principal caminho a ser tomado pela
legenda. Segundo aliados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seria
favorável ao apoio a Marina”.
Volta
para Minas, Aécio! - E até jornalistas menos independentes, como Fernando
Rodrigues, já tinham enterrado Aécio Neves. Em artigo no seu blog hospedado na
Folha, ele decretou: “Aécio só tem uma saída: dedicar-se a Minas Gerais”. Para
ele, o presidenciável tucano não tem qualquer possibilidade de reação e corre o
risco de perder o governo mineiro. “Se perder no próprio Estado, Aécio fica
fragilizado dentro do PSDB para 2018”. Seu pessimismo teve como base a pesquisa
do Ibope, que deu um índice maior de aprovação ao tucano. “Os 19% para o
presidenciável do PSDB são insuficientes para sonhar com o segundo turno”.
Imagine, então, com os 17% dados pelo Datafolha, que pertence ao mesmo grupo
empresarial em que trabalha?
“O
resultado do Ibope não deixa opções para o candidato a presidente pelo PSDB,
Aécio Neves: o tucano está quase obrigado a retornar para seu Estado natal para
não sofrer uma derrota humilhante entre os mineiros. Segundo o Ibope, o
candidato do PT a governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, tem 43% de
intenções de voto. O nome do PSDB, Pimenta da Veiga, tem apenas 23%, ou seja,
20 pontos a menos do que o petista. É verdade que Aécio Neves está com honrosos
19% na pesquisa Ibope, mas continua muito distante de Dilma Rousseff (PT) e de
Marina Silva (PSB). Ocorre que esses 19% são a mesma pontuação que o tucano
tinha no final de agosto no Ibope. Ou seja, ele não saiu do lugar”.
Esqueceram
do cambaleante - Estes e outros diagnósticos mais sensatos, menos tucanos,
confirmam que a situação de Aécio Neves é dramática e que nada justifica a
euforia do candidato e de alguns “calunistas” da mídia. Há também outras cenas
curiosas que servem como bafômetro para conter a embriagues. Na semana passada,
um grupo de artistas divulgou um manifesto de apoio a Geraldo Alckmin e José
Serra, candidatos ao governo e ao Senado por São Paulo. O evento “festivo”
ocorreu na Livraria Cultura. Curiosamente, o manifesto não citou o presidencial
do PSDB uma única vez. “O maestro Amilson Godoy [líder do movimento] atribuiu o
‘esquecimento’ de Aécio a um erro de digitação”, relatou o Estadão. Hilário!
Além
da pesquisa redentora, a única boa notícia para o presidenciável tucano nos
últimos dias é que ele ainda conta com o apoio das madames decrépitas de São Paulo.
Segundo a Folha tucana, “após a subida de Aécio em pesquisa, socialites atacam
o voto útil em Marina” e reforçam a campanha do senador mineiro. O relato da
jornalista Lígia Mesquita mostra bem a mentalidade tacanha e reacionária da
elite paulista e vale a pena ser reproduzida:
*****
"Acho
absurdo [quem escolhe o voto útil]. O pessoal estava votando na Marina no 1°
turno de medo que a Dilma [pausa]... achando que a Marina fosse a única opção!
Agora, a gente tá vendo que o Aécio é a opção", dizia a ex-primeira-dama
paulista Deuzeni Goldman na saída de um encontro de mulheres com o candidato à
Presidência Aécio Neves (PSDB), nesta quarta-feira (17), em São Paulo.
Animadas
com a subida de quatro pontos do presidenciável tucano na pesquisa Ibope
divulgada na noite anterior, Deuzeni e muitas das socialites que compareceram
ao Diretório Estadual do PSDB aproveitaram para criticar parte do eleitorado do
partido que está optando por Marina Silva (PSB).
A
escolha pelo voto útil na pessebista, à frente de Aécio nas pesquisas, seria,
na visão desses eleitores, a única opção para derrotar a presidente Dilma
Rousseff (PT).
"Ainda
temos 18 dias até a eleição. Se o Aécio encostar na Dilma, ele ganha. Esta
eleição é de oposição ao PT", comentava Regina Martinez, na plateia.
Segundo
a relações-públicas, a vontade de renovar o governo faz com que "o pessoal
pegue qualquer coisa para derrotar o PT". "Até acredito que os
brasileiros estejam comovidos com a situação da Marina, que falem olha os
destinos de Deus, o avião [de Eduardo Campos] caiu'. Mas muitos que votam na
Marina não sabem quais são os programas dela."
Para a
economista Eliandra Mendes, que participou na semana passada de encontro com
coordenadores da campanha de Marina Silva, é "lamentável" a opção
pelo voto útil. "Nós não votamos por convicção, mas por exclusão. É uma
pena porque a gente tá falando da nossa vida, de nossos filhos."
A
empresária Esther Schattan, que também esteve no encontro com a equipe
pessebista, disse à Folha na semana passada que poderia cogitar um voto útil.
Depois do encontro com Aécio, mudou o discurso. "Eu pensava [assim]. Mas
nesse primeiro turno podemos expressar nossa vontade", afirma.
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