O choro expõe uma crise de identidade da
própria candidata em relação ao que ela se tornou e que a afasta dos que até
então admiravam sua biografia.
Antônio
Lassance, na Carta Maior
A essa
altura, o marqueteiro de Marina já deve ter dado o conselho à candidata:
"engole esse choro!"
Choramos
por tristeza ou por alegria; por satisfação ou por arrependimento; por raiva ou
indignação; por medo, vergonha ou pressão.
Os
brasileiros se acostumaram a ver o presidente Lula chorar nas cerimônias de
Natal, junto aos catadores de lixo para reciclagem e junto da população em
situação de rua de S. Paulo.
Vimos,
mais de uma vez, ele chorar ao relatar o testemunho da mãe que, ao receber o
"Luz Para Todos", dizia que, pela primeira vez na vida, veria melhor
o rosto de seus filhos, antes de dar o beijo de boa noite.
Vimos
o presidente aos prantos quando foi abraçado pela multidão na saída do Palácio
do Planalto, em 1º. de janeiro de 2011, quando, simbolicamente, despediu-se do
povo que acompanhou suas duas presidências.
E
Marina, por que chora?
Marina
chora, de fato, por arrependimento, por medo e principalmente pela pressão que
sofre por todos os lados, todos os dias.
Chora
de medo e pela pressão que recebe dos que vociferam do púlpito da intolerância.
Eles aplicaram um cabresto em seu programa e em seu discurso.
Chora
pelos pontos preciosos perdidos nas pesquisas de opinião por conta dessas
declarações e das mudanças envergonhadas em seu programa de governo.
Chora
pelos que, dentro de seu próprio partido e de sua Rede, já anunciaram que não
mais farão sua campanha.
Chora
por aqueles que a apoiaram em 2010, julgando que fosse ela uma política
moderna, mas veem uma política desfigurada, capturada pelo fundamentalismo
também da ortodoxia da macroeconomia dos 1% mais ricos.
Chora
de arrependimento da frase de que daria menos importância ao pré-sal.
Essa
frase transformou-a em adversária de quem defende mais recursos para a educação
e para a saúde - e de todos os Estados e Municípios que pretendem receber
recursos do pré-sal.
Suas
intenções de voto no Rio de Janeiro despencaram assim que a frase apareceu nas
manchetes de todos os jornais do Estado.
Marina
chora porque não aguenta a pressão de quem passou a vida sendo pedra e, de
repente, virou uma grande vidraça.
Quem
chora diz, em lágrimas, o que economiza em palavras.
Por
isso, o choro de Marina é um resumo de tudo o que acontece em sua campanha, mas
que ela demonstra ter extrema dificuldade de suportar.
O
choro expõe uma crise de identidade da própria candidata em relação ao que ela
se tornou e que a afasta dos que até então admiravam sua biografia.
O
choro vem em um momento em que seus adversários levantam a dúvida sobre quem é
que manda em suas opiniões e sobre se ela tem preparo emocional para encarar
uma presidência da República.
Por
isso, seu marqueteiro já deve ter feito a recomendação: "Marina, engole
esse choro!"
(*)
Antonio Lassance é cientista político.
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