Difícil conduta tática
Com meu neto
Miguel, quando tinha apenas 1 ano e 6 meses
Luciano
Siqueira
A
gente aprende desde os primeiros passos na luta do povo – o PCdoB ensina –
alguns postulados básicos da boa conduta tática, porém nem sempre é fácil
praticá-los.
Definir
com clareza o objetivo principal. Considerar os obstáculos visíveis e
hipotéticos. Avaliar a correlação de forças. Medir cuidadosamente nossas forças
para ter idéia clara do tamanho dos passos a dar a cada instante. Na relação
com o aliado, combinar unidade e luta, busca incessante do consenso sem recusar
a polêmica toda vez que necessária. Nunca se deixar diluir na aliança,
conservar a própria identidade, a autonomia e a independência política.
Pois
bem. Nosso objetivo principal estava bem definido, juntamente com o aliado.
Clareza absoluta, unidade sólida.
Daí
a facilidade com que identificamos o caminho menos sinuoso e mais adequado para
contornarmos obstáculos e dificuldades.
Mas
o aliado nos surpreende com manobras arriscadas. Ora faz uma flexão à esquerda
– e nós o seguimos no intuito de convencê-lo a retomar o caminho traçado; ora
pende para a direita; pára, mostra-se indeciso, ameaça voltar ao ponto inicial
e em seguida torna a avançar – e nós o acompanhamos com todo o cuidado para não
contrariá-lo, na esperança de corrigir o desvio (uma desavença, nesse caso,
pode resultar em inoportuno conflito).
Ele
pára novamente. Examina o ambiente, procurando situar-se no tempo e no espaço,
quem sabe atento à correlação de forças. Afinal, é preciso medir cada passo,
nem ousar em demasia, nem tampouco ficar aquém das possibilidades.
Unidade
e luta. Não somos obrigados a seguir o aliado compulsoriamente, é preciso
resistir às suas arriscadas manobras, evitar a repetição de desvios. A um
comunista jamais é dado o direito de seguir a reboque de quem quer que seja.
Aliados, sim; porém cada um com a sua cor, seus princípios, seu programa
próprio. Por isso a aliança jamais se apresenta cinza, há que ser sempre
multicolor. Viva.
Seguimos
adiante. Após breve interregno, a porfia prossegue. Porém o aliado realiza um
recuo substancial, quase retornando ao ponto de partida. Recuamos com ele e
procuramos convencê-lo a retomar a rota menos difícil, mirando o objetivo
tático. Ele cede, com alguma relutância.
Agora
os obstáculos são muitos. Há pessoas e coisas no caminho, aparentemente a
multidão resiste ao nosso avanço. Mas é preciso seguir em frente, com
determinação, habilidade e ousadia. A vitória está próxima, agora temos que ser
firmes e inflexíveis – para não nos desviarmos da rota.
O
aliado nos segue sem resistências. Para ele o objetivo tático também se tornou
visível e muito próximo. Prosseguimos.
Vencemos!
Podemos, enfim, pisar o primeiro degrau da escada rolante – a concretização do
objetivo alcançado.
Imagine
você como é duro manter uma conduta tática correta quando se tem como aliado um
cidadão como o pequenino Miguel, neto do autor dessas linhas, de apenas um ano
e seis meses, tendo como campo de batalha o movimentado espaço do primeiro piso
do Shopping Center Recife. Barra pesada.
Publicado no
portal Vermelho em abril de 2007
Ilustração: Do site http://www.ativar.net
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