13 abril 2016

Embate estratégico

Conflito de longa duração
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

A semana é decisiva. Tudo se resolverá no domingo. Certo? Apenas em parte. A luta não começou agora, nem terminará com o desenlace do impeachment, qualquer que seja.
Ocorre no Brasil, desde o início do primeiro governo Lula, em 2003, um conflito de sentido estratégico, pondo em lados opostos projetos distintos de nação.
Dali em diante, passamos a viver uma possibilidade – a de um novo ciclo de transformações econômicas, sociais, políticas e institucionais de envergadura, que levado a termo resultaria num novo projeto nacional de desenvolvimento.
Ou, interrompido e derrotado, o Brasil retornaria ao ponto de partida de então, cujo desenho é o termino do segundo governo FHC, orientado pelo figurino neoliberal.
Seria, como tem sido, um confronto entre o ‘novo’, que surgia e procuraria se afirmar versus o ‘velho’ que, derrotado nas urnas, jamais deixaria de resistir, na tentativa de recuperar o posto e a iniciativa.
O fato que é o País conheceu transformações de monta: conquistas sociais sem precedentes, afirmação de sua soberania na cena internacional e avanços no relacionamento democrático com o conjunto dos segmentos da sociedade.
Passos importantes foram dados no combate efetivo à corrupção: já ao final do primeiro governo Lula, cerca de 270 inquéritos haviam sido instalados no âmbito federal, indiciando detentores de cargos públicos nos diversos escalões. Já não se manteria por debaixo do tapete a corrupção que sempre ocorreu na República.
Porém não avançou em muitos itens essenciais, a partir mesmo de alterações na superestrutura jurídico-institucional, que quedaria fechada, patrimonialista, corporativa.
Demais, da parte dos que governam desde então, sob a hegemonia do PT, muitos erros foram cometidos.
Por exemplo: jamais o País se livrou da camisa de força macroeconômica, em especial a política de juros estratosféricos combinada com metas inflacionárias restritivas e câmbio sobrevalorizado – empecilhos ao pleno desenvolvimento na esfera produtiva.
Assim, quando se abate sobre os países emergentes a terceira fase da crise global, agora inclusive levando aos países da zona do euro a se arrastarem sob ameaça de crescimento negativo, o Brasil foi e tem sido duramente atingido, particularmente do fim de 2014 em diante.
Demais, a economia em queda, mais de um milhão e meio de empregos com carteira assinadas perdidos, escândalos de corrupção envolvendo integrantes do governo e de empresas estatais e todo um cortejo de dificuldades, ao que se acrescenta uma extrema inapetência para a concertação de entendimentos com o Parlamento, sem o que nenhum governo, no sistema presidencialista brasileiro, consegue avançar.
Toda essa balbúrdia em torno da corrupção, alimentada sobretudo pela Operação Lava Jato – que blinda o PSDB e políticos oposicionistas, porque direcionada politicamente – e pela ação partidarizada dos monopólios da comunicação, reflete em sua essência o confronto dos dois projetos, que se arrasta desde 2003.
Então, domingo poderá ser decisivo para a continuidade ou não do processo de impeachment, mas estará muito longe de cessar esse conflito que divide o País social e politicamente.
Tem muita luta pela frente.

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