Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
A semana é decisiva. Tudo se resolverá no domingo. Certo?
Apenas em parte. A luta não começou agora, nem terminará com o desenlace do
impeachment, qualquer que seja.
Ocorre no Brasil, desde o início do primeiro governo Lula,
em 2003, um conflito de sentido estratégico, pondo em lados opostos projetos
distintos de nação.
Dali em diante, passamos a viver uma possibilidade – a de um
novo ciclo de transformações econômicas, sociais, políticas e institucionais de
envergadura, que levado a termo resultaria num novo projeto nacional de
desenvolvimento.
Ou, interrompido e derrotado, o Brasil retornaria ao ponto
de partida de então, cujo desenho é o termino do segundo governo FHC, orientado
pelo figurino neoliberal.
Seria, como tem sido, um confronto entre o ‘novo’, que
surgia e procuraria se afirmar versus o ‘velho’ que, derrotado nas urnas,
jamais deixaria de resistir, na tentativa de recuperar o posto e a iniciativa.
O fato que é o País conheceu transformações de monta:
conquistas sociais sem precedentes, afirmação de sua soberania na cena
internacional e avanços no relacionamento democrático com o conjunto dos
segmentos da sociedade.
Passos importantes foram dados no combate efetivo à corrupção:
já ao final do primeiro governo Lula, cerca de 270 inquéritos haviam sido
instalados no âmbito federal, indiciando detentores de cargos públicos nos
diversos escalões. Já não se manteria por debaixo do tapete a corrupção que
sempre ocorreu na República.
Porém não avançou em muitos itens essenciais, a partir mesmo
de alterações na superestrutura jurídico-institucional, que quedaria fechada, patrimonialista,
corporativa.
Demais, da parte dos que governam desde então, sob a
hegemonia do PT, muitos erros foram cometidos.
Por exemplo: jamais o País se livrou da camisa de força
macroeconômica, em especial a política de juros estratosféricos combinada com
metas inflacionárias restritivas e câmbio sobrevalorizado – empecilhos ao pleno
desenvolvimento na esfera produtiva.
Assim, quando se abate sobre os países emergentes a terceira
fase da crise global, agora inclusive levando aos países da zona do euro a se
arrastarem sob ameaça de crescimento negativo, o Brasil foi e tem sido
duramente atingido, particularmente do fim de 2014 em diante.
Demais, a economia em queda, mais de um milhão e meio de
empregos com carteira assinadas perdidos, escândalos de corrupção envolvendo
integrantes do governo e de empresas estatais e todo um cortejo de
dificuldades, ao que se acrescenta uma extrema inapetência para a concertação
de entendimentos com o Parlamento, sem o que nenhum governo, no sistema
presidencialista brasileiro, consegue avançar.
Toda essa balbúrdia em torno da corrupção, alimentada
sobretudo pela Operação Lava Jato – que blinda o PSDB e políticos
oposicionistas, porque direcionada politicamente – e pela ação partidarizada
dos monopólios da comunicação, reflete em sua essência o confronto dos dois
projetos, que se arrasta desde 2003.
Então, domingo poderá ser decisivo para a continuidade ou
não do processo de impeachment, mas estará muito longe de cessar esse conflito
que divide o País social e politicamente.
Tem muita luta pela frente.
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