Jeferson Miola, no Brasil 247
A
democracia brasileira está ameaçada de um golpe de Estado. O impeachment da
Presidente Dilma Rousseff, segundo a imprensa internacional, foi aprovado por
“uma assembléia de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha
fazendo a destituição de uma Presidente sem qualquer base jurídica nem
constitucional”.
O
impeachment está numa etapa avançada: o Senado Federal deverá decidir, dentro
de poucas semanas, se continua ou se arquiva o processo aprovado na “assembléia
de bandidos”. Caso o Senado prossiga o processo, a Presidente Dilma, que foi
eleita para governar o Brasil até 31 de dezembro de 2018, será afastada por até
180 dias até a decisão final. Na prática, porém, praticamente equivale à sua
destituição.
Se
isso acontecer, em lugar da Presidente eleita com os votos de 54.501.118
brasileiros/as, assume o cargo Michel Temer, um vice-presidente ilegítimo e
conspirador, um político sem nenhum voto popular que chefiou a concepção, a
preparação e a execução do golpe.
Hoje,
concatenando-se os acontecimentos dos últimos 16 meses, é possível reconhecer o
papel ativo de Temer na trama golpista. Como presidente do PMDB, ele sempre
estimulou a dubiedade do Partido, dividindo-o no apoio ao governo.
Temer
traiu a confiança da Presidente Dilma no governo. Ao invés de fazer de verdade
a articulação política, sabotou e enfraqueceu o governo, minou a estrutura e os
postos-chave com conspiradores e, terminado o serviço que lhe interessava,
jogou tudo às favas e saiu dizendo que “o Brasil precisa de alguém [ou seja,
ele mesmo] que tenha a capacidade de reunificar a todos” [em 4 de agosto de
2015].
Temer
nunca enfrentou o “bandido chamado Eduardo Cunha”, como se esperaria de alguém
comprometido com a defesa dos interesses do governo e do país ameaçados pelas
pautas-bomba do presidente da Câmara. Ao contrário disso, hoje as evidências
permitem concluir que ele e Cunha são sócios da empreitada golpista desde o
início.
O
espetáculo deplorável da “assembléia de bandidos” de 17 de abril de 2016
impactou o mundo, e cristalizou a percepção de que o impeachment aprovado por
367 “bandidos” é uma violência contra a Constituição e o Estado Democrático de
Direito.
Como o
Brasil ofereceu este espetáculo deplorável ao mundo? Essa pergunta só pode ser
respondida se anotado o papel determinante e fundamental da Rede Globo –
secundada por outras empresas da mídia – e de setores do Judiciário, Ministério
Público e Polícia Federal.
O
mundo inteiro está convencido de que há um golpe em curso no Brasil. Nessa
guerra pela verdade, como não contam com uma Rede Globo mundial, os golpistas
estão perdendo.
E estão
perdendo de goleada: The Economist, Guardian, El país, Le monde, Financial
Times, Reuters dizem que é golpe; Wall Street Journal, Washington Post, El
País, Le Parisien, Irish Times, New York Times, Pravda, Granma também dizem que
é golpe; La Nación, Ladiaria, El observador, Clarín dizem o mesmo; Al Jazeera,
Fox News Latina, CNN etc etc dizem o mesmo: é um golpe de Estado.
Apesar
da percepção do mundo inteiro de que está em andamento um golpe de Estado, só
no Brasil tem um punhado de gente que insiste no contrário: Temer, Cunha,
Bolsonaro, Aécio, FHC, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Dias Toffoli, FIESP,
Globo e os sócios golpistas.
O
sofisma mais recente dos golpistas para sustentar a aparência de “normalidade
institucional” é que Temer está substituindo normalmente a Presidente Dilma,
que retornará ao cargo depois do retorno da viagem a Nova York para a reunião
da ONU sobre clima.
Os
golpistas aproveitam esta substituição eventual como fachada para a propaganda
e o discurso mentiroso da “normalidade institucional”. O epílogo do golpe,
todavia, se dará com o seqüestro da cadeira da Dilma ao fim do julgamento de
exceção no Senado – que, tudo indica, a Casa será uma sucursal golpista, um
puxadinho da “assembléia de bandidos”.
O
impeachment jurídico-midiático-parlamentar é o golpe de novo tipo do século 21,
é um golpe diferente daquele clássico que a Globo e a UDN de então – hoje PMDB,
PSDB, DEM, PPS, PTB, PP – desferiram em 1964, com a deposição e exílio do
Presidente Jango.
No
golpe de Estado do século 21 quem executa não são os militares, mas um
condomínio integrado pela mídia, judiciário, ministério público e sacramentado
por uma “assembléia de bandidos”. Nesta nova modalidade golpista, o rito é
parte essencial das aparências – mas o mundo inteiro não acredita nesta farsa.
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