Luis Nassif, no Jornal GGN
O senador
Cristovam Buarque, e muitos de seus pares, declarou à Folha que votará pela
admissibilidade do impeachment, mas não pelo mérito - que será votado na época
apropriada.
Trata-se do
voto do cinismo, muito presente na vida nacional.
Equivale ao
sequestrador que imobiliza a vítima para que o parceiro atire. E, depois,
proclame em voz alta seu respeito à vida.
A alegação
de Cristovam é um primor do gênero. Não há tema mais discutido, debulhado, trocado
em miúdos do que o processo do impeachment. Mas o que diz nosso douto senador:
"Não
podemos ignorar que a Câmara deu autorização ao Senado para abrir o processo
com 367
assinaturas, mas temos que analisar a fundo o mérito da questão para
decidir se ela cometeu ou não crime de responsabilidade".
A aceitação
do julgamento pelo Senado criará o fato consumado. Automaticamente a presidente
será afastada por 180 dias. Entrará um novo presidente, que reorganizará o
Ministério e a máquina, ocupará todos os cargos e iniciará um novo governo.
A
possibilidade da volta da presidente deposta é nula. Será acenada eventualmente
como instrumento de barganha, caso o novo governo não atenda demandas de um ou
outro senador. Como será um governo em que o conceito de coalizão será exercido
de forma plena, não há possibilidade de que Dilma volte.
Portanto,
todos os senadores que votarem pela admissibilidade do julgamento estarão dando
seu voto final. E não haverá mágica - como a pretendida por Cristóvão - que
possa iludir seus eleitores. Se os eleitores forem a favor do impeachment, o
senador garante a reeleição. Se sua base for difusa - como é o caso de Romário
e Cristóvão entre outros - dança.
Votando pela
admissibilidade estarão todos ao lado dos Ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal) que recusarem-se a votar o mérito da questão, marcados a ferro e fogo
como parceiros do golpe.
Quando
começarem os abusos, não adiantarão discursos emotivos em favor da democracia.
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